Há quatro meses com preços abaixo do custo de produção na usina, o álcool combustível deve continuar desvalorizado no mercado interno durante a safra e, mesmo na entressafra (janeiro a março), não se esperam “fortes ajustes”,
segundo Marcos Jank, presidente da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica). Mesmo com um consumo interno 30% mais aquecido.
O cenário baixista confirmado ontem pela Unica para o álcool tem como base dois fatores principais. O primeiro é de uma produção de álcool 18% maior que a safra passada – com o clima seco de agosto e setembro, a Unica reviu sua estimativa de moagem de 410 milhões de toneladas para 415 milhões de toneladas, o que significará 19 bilhões de litros de álcool na safra 2007/08, ante os 18,5 bilhões da estimativa passada e dos 16 bilhões do ciclo 2006/07.
O segundo fator é uma exportação menor. A Unica mantém a projeção de vendas externas de 3;1 bilhões de litros até abril do ano que vem, ante os 3,6 bilhões realizados na safra passada. Até agosto, ou seja, em apenas quatro meses de safra, 1,4 milhão de litros haviam sido embarcados.
No entanto, há segmentos do mercado que não acreditam que a projeção de 3,1 bilhões de exportação vá se confirmar, segundo o analista da FCStone, Mário “Silveira. O argumento central dessa tese, conforme explica Silveira, é que a grande produção de etanol nos Estados Unidos provocou no segundo semestre queda acentuada dos preços locais, deixando o mercado americano pouco atrativo ao produto brasileiro, mesmo nas exportações via Caribe e América Central, ou seja, sem a taxação. “A produção americana cresceu mais do que a capacidade de misturar e transportar esse etanol. O resultado é que compensa mais ao Brasil vender no mercado interno, mesmo com esse nível de preço, do que exportar aos EUA, completa Silveira, ressaltando que o volume embarcado até agora aos EUA se refere a contratos firmados anteriormente, quando os preços estavam mais elevados. “Se o Brasil conseguir exportar 3,1 bilhões de litros, como prevê a Unica, a situação será até confortável, segundo alguns grandes grupos usineiros. Isso porque a demanda interna está bem aquecida”, reforça Silveira.
Segundo levantamento da Unica, as vendas de etano das unidades industriais para o mercado interno entre abril e agosto foram de 6,2 bilhões de litros, ante os 4,7 bilhões de litros do mesmo período de 2006. “Se os preços menores da usina tivessem sido repassados ao mesmo tempo para a bomba, esse consumo poderia ter sido incrementado em 500 milhões de litros”, reclama Antônio de Pádua Rodrigues, diretor-técnico da Unica.
Levantamento de Preços da Agência Nacional de Petróleo (ANP) mostra que, entre abril e a primeira quinzena de setembro, os preços do álcool hidratado ao consumidor final reduziram 23 %, enquanto que, para a distribuidora, o percentual de queda foi de 31 %. “Outros agentes da cadeia estão se apropriando dessa margem, que deveria ser do consumidor”, acrescenta Rodrigues. Para Julio Maria Borges, da JOB Consultoria, é o mercado interno que sustentará nesta safra o grande aumento da produção brasileira. “Não há destino exterior para esse produto adicional”, completa. Por isso, segundo Borges, a variação na entressafra deve ser comedida para não impactar o consumo nas bombas de combustível. “Deve atingir, no máximo, o preço mínimo do ano passado, ou seja, R$ 800 o metro cúbico, ante os atuais R$ 600”, arrica.