Depois de ratificar o acordo que definiu a abertura do comércio bilateral de carne bovina in natura com os Estados Unidos, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, vai liderar em setembro uma missão, reforçada por empresários, que fará um tour de 22 dias por sete países da Ásia para tentar abrir ou consolidar mercados para produtos do agronegócio brasileiro.
Mesmo que a maior parte dos encontros não renda negócios imediatos, o governo espera concluir, durante a viagem, as negociações que têm por objetivo abrir a Coreia do Sul para a carne suína do Brasil. Estima-se que as exportações do produto ao país podem render US$ 108 milhões por ano.
Essa nova corrida por novos mercados acontece em um momento de valorização do real em relação ao dólar, o que o ministro considera preocupante para o agronegócio nacional – ainda que este seja, segundo ele, um “problema administrável”, pelo menos por enquanto. Em entrevista ao Valor, Blairo considerou que problema mesmo será se o dólar cair abaixo de R$ 3, o que espremerá as margens de lucro das empresas exportadoras.
Para tentar diluir esses reflexos negativos, Blairo realça que o ministério trabalha para reduzir a burocracia exigida das companhias brasileiras. Ele reafirmou o compromisso de revisar e eliminar cerca de 300 normas e processos internos do ministério que criam custos desnecessários e tornam o setor agropecuário nacional menos competitivo – o que, segundo ele, pode gerar economia de R$ 1 bilhão em dez anos.
Além da busca de maior competitividade por meio da redução de burocracias, Blairo destacou ser necessário rever a postura brasileira – “pouco agressiva”, em sua opinião – no comércio internacional. Ele avaliou que há muita passividade do país, que precisa se esforçar para vender mais em vez de esperar que alguém resolva comprar os produtos nacionais.
A viagem para a Ásia não deixa de reforçar essa visão. O ministro reiterou o plano de ampliar de 7% para 10% a participação do Brasil no mercado mundial de produtos agropecuários, mas para isso defendeu uma presença maior do governo nas mesas de negociação internacional. “Até 2018, vamos triplicar para 25 nosso quadro de adidos agrícolas”, destacou, lembrando que hoje são oito.
O roteiro planejado inclui negociações para a costura de acordos em frentes como algodão, etanol, frutas e madeira, mas as carnes serão mesmo a prioridade e já deverão dominar as discussões logo na primeira parada de Blairo. No dia 4 de setembro, o ministro estará na China para a cúpula do G-20, grupo das 20 maiores economias do mundo, acompanhando o presidente interino Michel Temer – evidentemente, se o afastamento da presidente Dilma Rousseff se tornar definitivo.
O ministro quer que a China habilite um número maior de frigoríficos brasileiros de carne bovina, suína e de frango para exportação ao gigante asiático. Há seis unidades de carne de frango e duas de carne suína à espera apenas do sinal verde final, uma vez que já cumpriram todos os requisitos necessários, conforme a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
Após a visita à China, Blairo irá à Coreia do Sul, onde as negociações para a abertura para carne suína brasileira já estão adiantadas. O governador Raimundo Colombo, de Santa Catarina, maior Estado produtor de carne suína do país, já se encontrou com autoridades coreanas em Seul para pavimentar o caminho para a abertura desse mercado, cujo potencial de compras é de 33 mil toneladas por ano.
O Estado foi um dos primeiros a obter, no ano passado, o status de livre da doença da peste suína clássica conferido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). “A Coreia do Sul é um mercado muito importante, e esse acordo que acabamos de fechar com os Estados Unidos vai ajudar muito a gente daqui para frente com os coreanos e os asiáticos em geral, porque foi uma sinalização de que o Brasil agora tem outro nível de segurança sanitária”, afirmou o ministro.
O itinerário de Blairo Maggi também incluirá negociações para a abertura da Tailândia para as três carnes e para a farinha de aves, e de Myanmar para carne suína. No Vietnã, a ideia é buscar a habilitação de novos estabelecimentos para ampliar os embarques de carnes e negociar espaço para farinhas, bovinos vivos, material genético bovino e lácteos; na Malásia, o objetivo é habilitar frigoríficos de carnes em geral, abrir mercado para a carne bovina com osso e negociar espaço para material genético de aves e de bovinos vivos; e na Índia, é a venda de carne suína que também está na mira.
Fonte: (Valor)