A Fazenda Experimental do Vale do Curu, em Pentecoste, cidade a 86 quilômetros de Fortaleza, começou a testar este mês a eficiência de um biodigestor alimentado por esterco de caprinos. O equipamento será utilizado na produção de biofertilizante e biogás para adubação orgânica e fornecimento de energia no bombeamento de água. “Vamos analisar a viabilidade técnica, econômica e ambiental de um sistema produtivo semi-intensivo de caprinos”, resume Paulo Carvalho, do departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Ceará (UFC), e coordenador do trabalho, que contou com apoio financeiro do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) da ordem de R$ 33 mil, para levar adiante a idéia.
A tecnologia aplicada na fazenda, instalada na área do Centro de Ciências Agrárias da UFC, faz parte do projeto maior do professor Paulo Carvalho, que envolve a utilização da água disponível para suprimento animal e irrigação de pastagens. “Queremos fechar um ciclo auto-sustentável, partindo da criação de caprinos, que produz o esterco para o biodigestor”, acrescenta.
O diferencial do equipamento, adaptado às condições do semi-árido nordestino, está no esterco de caprino enquanto os sistemas convencionais utilizam o de bovino e de suíno para alimentação do biodigestor, especialmente pela influência da região Sul, onde prevalece a criação desses animais. “Não existia praticamente nada sobre o uso de biodigestor com esterco de caprinos, e aí reside a contribuição pioneira do trabalho”, assinala.
O coordenador diz que a área escolhida para a avaliação do equipamento reproduz as condições encontradas em uma pequena propriedade rural do semi-árido, sem energia elétrica ou água encanada.
Com mecanismo de câmara fechada, sem a presença de oxigênio, o equipamento processa a decomposição de matéria orgânica para a geração de biogás e biofertilizante. “Os rejeitos desse processo se constituem num fertilizante de alta qualidade”, diz o especialista. Na medida que as bactérias digerem a matéria orgânica, o produto sai totalmente sem cheiro, fazendo o saneamento do material que normalmente fica acumulado no solo, atraindo moscas e doenças.
“A proposta envolve três aspectos – a produção de gás combustível, de adubo orgânico e unidade de saneamento”, reforça. Assegurada a viabilidade técnica, e com o sistema em funcionamento, o professor trabalha agora na análise dos dados econômicos para o relatório final que deverá ser apresentado ao BNB.
Concluída mais esta etapa, Carvalho vai tratar da política de extensão dessa tecnologia, que poderá ser conhecida na fazenda, aberta para visitação. A estratégia envolve ainda cursos de capacitação sobre o biodigestor, equipamento caracterizado de fácil construção. “Trabalhamos com uma tecnologia intensiva de mão-de-obra, focada na questão social, com a geração de emprego, renda, com melhoria da qualidade de vida no semi-árido nordestino”, acrescenta.
Fontes alternativas
De acordo com o professor, a idéia vem apoiada no conceito de geração descentralizada, que contempla a autonomia energética já adotada na Europa e que começa a chegar ao Brasil. “Cada fazenda, casa ou indústria gera a energia que necessita para suas atividades”, diz.
Carvalho observa que, no caso específico do Nordeste, com esgotamento do modelo centralizado e sem potencial para hidrelétricas (a última foi Xingó, na década de 90), chegou a vez das chamadas fontes alternativas de energia – solar, eólica, biomassa -, que têm o caráter de descentralização.
kicker: Objetivo é alcançar a autonomia energética no semi-árido, com a fazenda, casa ou indústria gerando a energia que necessita