O rápido crescimento da indústria global de biocombustíveis vai manter os preços dos produtos agrícolas em alta na próxima década, devido à demanda maior por grãos e açúcar. A conclusão é de relatório divulgado ontem pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). Segundo o estudo, os biocombustíveis terão forte impacto na agricultura entre 2007 e 2016 — argumento já usado pelo presidente de Cuba, Fidel Castro, para criticar o etanol.
— A bioenergia tornou-se um fator-chave no funcionamento dos mercados agrícolas — afirmou Loek Boonekamp, representante da OCDE, acrescentando que, a médio prazo, os preços agrícolas ficarão acima da média dos últimos dez anos.
Segundo Boonekamp, os preços de produtos agrícolas, principalmente grãos, devem subir entre 20% e 50% na próxima década. Ele disse que já haveria uma alta em decorrência da queda na produção em muitos países.
O relatório estima que essa alta terá reflexos nos preços das carnes, por causa da alimentação dos animais.
Petrobras fabricará biodiesel para empresa portuguesa De acordo com o estudo, o Brasil é um dos países onde a produção de biocombustível mais cresce, devendo atingir 44 bilhões de litros na próxima década, ou 145% a mais que em 2006.
Nos EUA, a produção de etanol, baseada no milho, deve crescer 50% este ano e dobrar até 2016. Em conseqüência, diz o estudo, o uso do milho para produção de combustível passará de um quinto da colheita em 2006 para 32% em 2016.
Já na China, que também faz etanol a partir de milho, OCDE e FAO estimam que a produção atingirá 3,8 bilhões de litros em 2016, contra 1,5 bilhão no ano
passado.
O relatório também afirma que a produção e o consumo de produtos agrícolas em geral crescerão mais nos países em desenvolvimento do que nas nações ricas — principalmente carnes bovina e suína, manteiga, leite desnatado e açúcar.
Além disso, os países da OCDE perderão uma fatia das exportações de quase todas as commodities agrícolas.
Confirmando essa tendência, a Petrobras e a portuguesa Galp Energia assinaram ontem um termo de compromisso para a produção de 600 mil toneladas por ano de óleos vegetais no Brasil. Metade irá para as refinarias da Galp e a outra metade será processada pela Petrobras, que depois exportará o biodiesel resultante para Portugal e outros países da Europa.