A corrida rumo à produção de biocombustíveis, que no momento empolga proprietários rurais e industriais brasileiros e atrai o interesse de capitalistas estrangeiros por terras no Brasil, precisa diminuir seu ímpeto de modo a possibilitar uma tomada de fôlego para estudo minucioso do processo. Porque a preocupação não é apenas com o meio ambiente mas com a consequente diminuição da produção de alimentos em terras que cederão lugar para a cana. Ainda mais quando a previsão – feita no último Congresso Brasileiro de Agrobusines – é de que a demanda mundial de alimentação será duplicada até meados do presente século.
Em função dos desvios já ocorridos na direção da cana, quedas na produção de certos gêneros alimentícios já resultaram no aumento de seus preços. E, paralelamente, os ambientalistas manifestam preocupação com os impactos negativos para o solo resultantes da monocultura da cana, além de aumentar a emissão de gás carbônico pelas queimadas nos canaviais – um procedimento destinado a eliminar a maior parte da palhada da planta. Esta uma contradição, porque a opção pelos biocombustíveis visa justamente diminuir a contaminação do ar pela queima de combustíveis fósseis.
Especialistas em tecnologia dos solos defendem a rotação da cana (que basicamente produz açúcar) com outras culturas, como alternativa para renovação da terra. Atendo-se, no caso, apenas aos biocombustíveis, sem avaliação quanto a eventual prejuízo na produção de alimentos, eles recomendam como prática de renovação do solo cultivar outras plantas também destinadas a alternativas de energia, que são múltiplas. É unânime a defesa do plantio direto, para proteção do solo, e que no caso da cana ainda facilita o corte, sem a necessidade da queimada.
Se é preciso a ciência e a tecnologia pensarem na contenção do aquecimento global originado da emissão de gases poluentes dos combustíveis à base de petróleo, é uma imprudência povoar as terras férteis do planeta (porque o entusiasmo é mundial) com cana e outras plantas geradoras de biocombustível no lugar da produção de alimentos para o homem e os animais. Será preciso haver o equilíbrio, clamando-se pela conscientização dos governantes e da iniciativa privada, em coro com os ambientalistas – estes às vezes chegando à obstinação preservacionista porém indispensáveis, sem os quais estariam maiores os danos à terra e ao ambiente.
O aumento da demanda por comida ocorre pelo crescimento populacional da humanidade – que se vem diminuindo em países europeus, aumenta em outros – e pela melhoria do poder aquisitivo de nações populosas, caso da China, significando maior consumo. Se a previsão é de que em 2050 a população mundial chegará a 9 bilhões, imagina-se que produzir alimentos para tanta gente será não apenas um bom negócio mas um compromisso dos países vocacionados para isso, destacadamente o Brasil.