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“Bio-meg” e a revolução dos biodegradáveis

Não resta a menor dúvida que, ao fazer o lançamento oficial no Brasil – primeiro país da América Latina e o quinto no mundo – da garrafa chamada plantbottle, a multinacional Coca-Cola iniciou uma verdadeira revolução no que se refere ao futuro das embalagens à base de pet (politereftalato de etileno).

A plantbottle, literalmente “garrafa de planta”, pois tem em sua composição o “bio-MEG” (derivado do etanol de cana-de-açúcar, totalmente biodegradável), é uma embalagem PET, mas tem uma enorme diferença das demais, pois segundo a Coca-Cola (www.cocacolabrasil.com.br) seu plástico é produzido a partir da reação química de dois componentes: meg (monoetileno glicol), responsável por 30% de seu peso; e pta (ácido politereftálico), responsável pelos 70% restantes.

Inicialmente, a Coca-Cola utilizará a embalagem da plantbottle somente em alguns estados e em volu! mes de 500 ml e 600 ml, pois atualmente, o bio-meg é fabricado no exterior, mas sempre utilizando o etanol brasileiro. No entanto, segundo o presidente da Coca-Cola Brasil, Xiemar Zarazúa, a multinacional espera que até 2014 já esteja produzindo o componente no Brasil. Em se confirmando esse fato, é possível que a partir daí já tenhamos todas as embalagens do tipo plantbottle fabricada com 100% de bio-meg, e o que é muito importante, o Brasil passará da condição de importador para exportador do bio-componente.

Além do enorme benefício que a decisão da Coca-Cola trará para o meio ambiente, soma-se o fato de que, a instalação de fábricas de bio-meg no Brasil reforçará ainda mais a importância do setor sucroalcooleiro e por extensão a imagem do país como grande incentivador na utilização das energias renováveis.

A fabricação do bio-meg no Brasil e o consequente incremento na sua utilização, fará com que haja uma demand! a de grande volume de etanol, pois segundo cálculos realizados pela Unica – União da Indústria de Cana-de-Açúcar (www.unica.com.br) a produção de cada lote de 10 milhões de garrafas de 2 litros deverá consumir cerca de 500 toneladas de bio pet. Ou seja, demandar 68 mil litros de etanol. Na eventualidade do conteúdo renovável do pet passar de 30% para 100%, cada lote de 10 milhões de garrafas de 2 litros deverá consumir 227 mil litros de etanol. Como bem definiu o presidente da Unica, Marcos Sawaya Jank: “A plantbottle fará parte de um mercado em expansão para os bioplásticos, que deverá representar em poucos anos uma demanda por etanol superior a 1,5 bilhão de litros/ano. Trata-se, portanto, de um novo e importante mercado, com potencial para gerar mais de 18 mil empregos no setor sucroenergético”.

Acredito que a demanda extra de etanol em função não só da utilização do bio-meg, mas de outros bio-componentes, deverá ser bem maior do aquela prevista pelo presidente da Unica! . A minha afirmação se baseia no fato de que, em função da sua enorme participação no mercado, a decisão da Coca-Cola em utilizar a plantbottle, fará com que outras indústrias trilhem o mesmo caminho.

A explicação é muito simples. As demais empresas do setor que utilizam o PET, vendo que um gigante do porte da Coca-Cola tomou essa revolucionária decisão de substituir paulatinamente as suas embalagens fabricadas com componentes à base de derivados de petróleo por outras que utilizam o bio-meg, e consequentemente, dar a sua contribuição para a preservação do meio ambiente. Isto porque, obviamente, não vão querer ficar isoladas com a imagem de poluidoras do planeta. Assim sendo, será uma questão de sobrevivência para que outras tantas empresas busquem cada vez mais a utilização de bio-componentes, principalmente aqueles à base de etanol, já que o energético é produzido aqui e do qual temos total domínio.

Não tenho dúvida em afirmar que em médio prazo, o panorama das embalagens mudará totalmente e não só aquelas de refrigerantes e água, mas em tudo que utiliza o PET. Os bio-componentes por serem ainda mais caros que aqueles derivados do petróleo, têm uma certa resistência por parte dos fabricantes de embalagens; mas é só uma questão de tempo para que se reverta essa situação, à medida que se aumente a produção.

Estima-se que anualmente são fabricadas 350 bilhões de garrafas pet em todo o mundo, sendo 9 bilhões no Brasil. Portanto, a substituição dos componentes derivados de petróleo na fabricação de embalagens é um procedimento que não terá retorno, pois o meio ambiente, não obstante a reciclagem, já não suporta as bilhões de embalagens que levam 500 anos para se degradar.