Mercado

Bicombustíveis em xeque

Está na mídia e na boca do povo: em 2005, o preço do álcool hidratado subiu 28%, segundo a Fecombustíveis (Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes). Só neste comecinho de ano, a alta já foi de 6%. Inflação que dói no bolso e deixa o consumidor arredio: afinal, os carros bicombustíveis ainda valem a pena?

– Antes, colocava só álcool para economizar. Agora, penso duas vezes. Se continuar assim, vou acabar voltando a usar apenas gasolina. Aí, flex para quê? – questiona o estudante universitário Fábio Melica, proprietário de um modelo que roda com álcool e gasolina.

A indignação se justifica. A alta do álcool veio perturbar uma ascensão meteórica dos motores flex. Ano passado, mais de 70% dos carros vendidos no Brasil eram bicombustíveis. Versatilidade que já vinha fazendo brilhar olhos estrangeiros – nos Estados Unidos, por exemplo, GM e Ford lançaram recentemente modelos flexíveis, o Chevrolet Tahoe e uma versão bicombustível da picape F-150. Até chips para converter carros a gasolina em bicombustíveis já circulam por aí – embora sejam de confiabilidade, no mínimo, duvidosa.

Tudo parecia um mar de rosas até a inflação – velha companheira dos brasileiros – jogar o balde de água fria. Hoje, apenas em 11 estados o litro de álcool custa no máximo 70% do valor da gasolina – marca limite para ele ser vantajoso em relação ao derivado do petróleo, já que o destilado da cana rende menos. Nos outros lugares, não compensa, neste momento, abastecer com álcool.

Derrocada dos flex? Ainda é cedo para dizer. Cledorvino Bellini, superintendente da Fiat para a América Latina, argumenta:

– Com ou sem alta do álcool, o bicombustível é vantajoso para o consumidor, porque lhe dá soberania para decidir com o que rodar. Isso é uma proteção contra crises sazonais, como a que estamos passando. No passado, as pessoas compraram o carro só a álcool, veio a crise de abastecimento e elas ficaram desassistidas. Hoje, isso não acontece: elas têm uma alternativa, e por isso atuam mais como força reguladora de mercado.

Corrado Capellano, economista, concorda e explica:

– Foi o aumento da demanda por álcool que provocou a alta dos preços. A tendência, agora, é que se atinja um equilíbrio determinado pela lei de mercado. Conforme o álcool deixa de ser compensador em relação à gasolina (que também não deve aumentar muito mais), a procura por ele diminui, forçando uma queda de preços – prevê.

Para Capellano, de agora em diante a oscilação do preço do álcool não deverá ser maior que 5% – para cima ou para baixo.

O fato de estarmos na entressafra da cana-de-açúcar reforça a idéia de que o problema é momentâneo. Tudo se resolveria em abril, quando a produção nos campos deve voltar ao normal. É esperar para ver.