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Biagi fala sobre o futuro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social

Por Fábio Soares Rodrigues

Em entrevista exclusiva ao CanaWeb, Maurílio Biagi Filho, conselheiro da Cia. Energética Santa Elisa, da União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo – UNICA e integrante do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do governo federal fala sobre o futuro dessa nova ordem social.

Canaweb – O que o sr. espera do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social?

Maurílio Biagi Filho – A pergunta que se deve fazer é exatamente o contrário, ou seja, o que o governo Lula espera de nós, que fomos convocados para integrar o Conselho, e também da sociedade brasileira? O momento é de unir forças, idéias, propostas, de nos colocar à disposição para apresentar soluções e alternativas que possam trazer de volta o crescimento econômico agora sob nova perspectiva, a do resgate social. Como o próprio nome fala, trata-se de um Conselho aonde um grupo de pessoas representativas de vários segmentos da sociedade organizada vai “aconselhar” o presidente da República e seus ministros quanto ao melhor caminho a ser trilhado para se atingir o objetivo de construir um país melhor para todos.

Espero que o Conselho atinja os objetivos para os quais foi criado

CanaWeb – Até que o ponto o Conselho pode ajudar setor sucroalcooleiro?

Biagi – Na medida em que o setor é importante para o país, como já se sabe que é. O Conselho será o fórum para alguns esclarecimentos do setor e, na medida em que o setor esteja realmente atento, pode ajudar o Conselho com disponibilização de informações e boa vontade.

O melhor exemplo de boa vontade foi esta tratativa de redução da mistura do álcool na gasolina de 25% para 20%. Nunca houve uma negociação tão tranqüila de redução da mistura com ambas as partes, setor e governo, demonstrando muito boa vontade. Se as contrapartidas não forem cumpridas pelo setor, de produção de 1,5 bilhão de litros de álcool a mais na safra que começa em abril, com um mês de antecedência, aí sim, as conseqüências serão muito sérias porque há uma quebra de confiança.

Ainda através do Conselho o setor pode ajudar o governo, por exemplo, na definição de uma matriz energética que contemple as diversas fontes de produção energética, incluindo a biomassa.

CanaWeb – O sr. acha que a imagem do setor sucroalcooleiro pode ser melhorada junto a população?

Biagi – Acredito que sim. Para isto, a união de esforços do setor com o governo na criação de políticas específicas, como formação de estoques reguladores, por exemplo, pode resgatar definitivamente a credibilidade do setor junto à opinião pública. É preciso lembrar que o setor produz em seis meses o que o país consome em doze e garantir de forma permanente o abastecimento, sem sobressaltos, é fundamental.

Para isto é preciso que se haja de forma mais patriótica, com a própria Petrobrás – estatal que tem entre suas subsidiárias a BR Distribuidora – que deve operar na preservação do mercado consumidor do álcool. A imagem de que os produtores de álcool são vilões só favorece as multinacionais do petróleo e em nada contribuem para que o país possa impor aos mercados interno e externo sua fonte renovável de combustível.

CanaWeb – O sr. já tem alguma proposta ou sugestão para a reunião no ínicio de Fevereiro?

Biagi – Não se trata de formular propostas, pelo menos não no momento. A primeira reunião será dividida em duas partes. Uma será a solenidade de posse dos integrantes, e a outra será de trabalho. Um dos assuntos que estará na pauta será a reforma da previdência e estamos nos preparando para isto.

Mas o Conselho é muito mais amplo. Trata-se da construção de um novo “Contrato Social”, ou seja, uma vontade política majoritária para aglutinar a sociedade brasileira na construção consciente de uma nação moderna, democrática e socialmente igualitária.

Vai funcionar de forma dinâmica. Cada conselheiro poderá nomear um suplente. Poderão ser formados Grupos Temáticos para discussão dos assuntos propostos e apresentação de soluções que poderão ou não, serem adotadas pelo presidente da República.

O que o presidente Lula propõe com a criação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social não é nenhuma novidade no mundo. Mecanismos semelhantes foram criados com sucesso na Espanha, Portugal, Itália, Alemanha, Áustria e Holanda. A vantagem é que o Conselho poderá atuar tendo como uma de suas referências, os resultados obtidos nos outros países.

CanaWeb – Com a sua participação no Conselho, nosso setor estará bem representado. Estas benfeitorias poderão se estender a outros segmentos da indústria?

Biagi – Não sei se estará bem representado comigo. Essa é uma resposta que a gente terá depois de algumas reuniões. Minha participação não vai se restringir ao setor. O Conselho terá caráter consultivo e não deliberativo. Daí depende muito o trabalho de persuasão, de explicações para que o Executivo possa assimilar e adotar as sugestões do Conselho. É claro que o benefício será para todos os segmentos, industriais ou não.

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