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Belo Monte: biomassa, uma fonte alternativa

A batalha judicial que vem sendo travada em torno do leilão para a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte deixa para trás um debate que já deveria estar em pauta por autoridades, especialistas e ambientalistas: o Brasil pode usar seu potencial para gerar energia a partir de biomassa. Além de menos poluente, a geração de energia a partir de biomassa possui números atrativos. Enquanto a hidrelétrica Belo Monte produzirá algo em torno de 4.500 Megawatts (MW), pois a vazão do Xingu limita a capacidade total de 11.233 MW, a falta de incentivo para a biomassa deixa de gerar 5 mil MW por ano.

Considerando para tal o investimento de R$ 10 bilhões, quase metade do custo previsto pelo governo para Belo Monte, o tempo para o início de operação e o impacto positivo deste processo ao meio ambiente, certamente a biomassa é uma fonte mais rentável.

– Em dois anos, se houver decisão política, será possível produzir 5 mil MW, enquanto que a primeira fase da Belo Monte está prevista para entrar em operação em 2015, e a segunda, em 2019 – avalia o advogado Luiz Piauhylino Monteiro Filho, do escritório Piauhylino Monteiro Sociedade de Advogados, especializado no setor energético.

Segundo ele, priorizar o potencial já existente é uma alternativa muito mais simples e econômica do que a construção de uma termelétrica.

– Ao invés de investir em termelétricas a gás ou óleo, que são mais poluentes e caras, o governo deveria priorizar usinas que gerem energia a partir do bagaço da cana. Está havendo uma inversão de valores – afirma.

Sem entrar no mérito político da questão, Luiz Piauhylino considera bem-vinda qualquer medida que se adote para impedir o risco de apagão.

– Só que há formas e formas de agir. E, seguramente, construir termelétricas não é a mais adequada, e deveria ser utilizada só em último caso.

Piauhylino defende mudança de postura de instituições financiadoras federais com relação ao setor sucroalcooleiro:

– Elas deveriam tratar o setor com mais atenção e agilizar a análise de projetos e a liberação de investimentos, trâmites que levam no mínimo um ano para uma decisão. Sem investimentos, o setor sucroalcooleiro deixa de gerar 14 mil megawats de energia, o equivalente a uma Itaipu.

Ao incentivar o uso de matéria-prima fóssil para gerar energia — o bagaço da cana numa caldeira gera vapor e, consequentemente, energia – o Brasil não só estará aproveitando todo o seu potencial nessa área, como irá engajar-se ainda mais nas discussões envolvendo a defesa do meio ambiente.

– Quando o mundo debate alternativas renováveis para a defesa ambiental, o Brasil ainda gasta com construção de termelétricas a gás, óleo diesel ou a carvão. Está perdendo a oportunidade de modernizar a geração de energia a partir de biomassa. Embora a iniciativa seja certa, o caminho é que está errado – avalia.

Estratégico para o governo, o setor sucroalcooleiro hoje tem um crédito de R$ 15 bilhões para receber do governo federal, como também deve ao poder público.

– Este é o momento de acerto de contas, de passar a questão energética do país a limpo – ressalta. – A questão é simples, basta mandar acertar os direitos creditórios oriundos da Lei 4.870/65. Assim, as usinas pagariam o que devem à União em tributos, e ao Banco do Brasil, em financiamentos atrasados.

Com o saldo, atesta o especialista, realizariam novos investimentos para, assim, enfrentar multinacionais, que, “por valores abaixo do mercado”, estão adquirindo e controlando as usinas brasileiras.

– A continuar a atual situação, em cinco anos, o setor sucroalcooleiro do Brasil deverá estar sendo controlado por apenas dez grupos econômicos estrangeiros – alerta.

Energia nuclear: do preconceito a um modelo de eficiência

O desempenho de Angra 2 em 2009 a colocou entre as usinas nucleares mais produtivas, seguras e confiáveis do mundo. De acordo com a publicação americana Nucleonics Week, especializada em energia nuclear, a unidade ocupou, no ano passado, o 33º lugar em produção entre as 436 usinas em operação em todo o planeta. Além disso, em relação aos indicadores de desempenho da World Association of Nuclear Operators (Wano), Angra 2 ficou em 21º lugar numa comparação com as 50 melhores usinas americanas.

A usina brasileira fechou 2009 com uma geração de 10.153.593,49 megawatts-hora (MWh) por ano, colocando-a entre as unidades de melhor performance no ranking da Nucleonics Week, publicado no início do mês. Essa energia é suficiente para abastecer Brasília e Belo Horizonte durante cerca de um ano. O resultado de Angra 2 teria sido ainda melhor se a usina tivesse utilizado toda a sua capacidade produtiva durante o ano.

Potencial

Apesar de apresentar fator de disponibilidade de 92,24% – tempo em que a usina esteve disponível para gerar 100% de sua capacidade – o Operador Nacional do Sistema (ONS) não solicitou à Eletronuclear a geração de todo esse potencial. Caso isso tivesse acontecido, Angra 2 teria gerado 10.908.302 MWh no ano e seria a 14ª usina nuclear de maior produção em 2009.

Já os indicadores da Wano refletem o grau de confiabilidade e segurança das usinas nucleares em todo o mundo. Angra 2 obteve resultados iguais ou superiores à média em 11 dos 13 parâmetros propostos pela associação. O indexador desenvolvido pela entidade combina indicadores como fator de disponibilidade, indicador químico, desligamento automático, exposição coletiva à radiação e número de acidentes industriais. Angra 2 obteve um índice de 99,05 pontos, pontuação maior que a média obtida pelas 104 usinas americanas (87,4 pontos) e as 15 usinas com projeto alemão, situadas dentro e fora da Alemanha. Além de ficar em 21º lugar, em comparação com as usinas americanas, a unidade brasileira ficou em primeiro lugar, se comparada às alemãs.

O superintendente de Angra 2, Antonio Carlos Mazzaro, afirma que a performance da usina é uma demonstração de que a energia nuclear é uma fonte limpa, que opera com alto índice de segurança, confiabilidade e disponibilidade.

– A geração nuclear tem um papel importante a desempenhar na expansão da matriz elétrica brasileira. O bom desempenho de Angra 2 é uma confirmação disso – ressalta.