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Basf estuda matérias-primas renováveis

Na agenda pública de sua visita ao Brasil, o presidente mundial da Basf, o alemão Jürgen Hambrecht, veio lançar um projeto para o reforço da educação de ciências para crianças do ensino fundamental, um dos pilares estimulados pela companhia.

Mas, em conversas a portas fechadas, a viagem do principal executivo da empresa alemã também teve outro objetivo. Hambrecht discutiu internamente com seus executivos projetos de fontes de matérias-primas renováveis.

“Estamos avaliando diversos projetos, alguns dos quais sobre fontes renováveis”, explicou ao Valor o presidente da Basf na América do Sul, Rolf-Dieter Acker. “Mas não temos nada definido e é muito cedo ainda para divulgarmos algo”, completou. O etanol, afirmou Acker, é uma das possibilidades em estudo.

Hambrecht, que viveu metade dos seus 60 anos na Basf, tem conduzido mudanças importantes no grupo. Desde que assumiu em maio de 2003 depois de chefiar as operações da Ásia, ele vem afinando o foco da companhia.

Ele conseguiu convencer os acionistas a realizar grandes aquisições no setor químico, reforçando a atuação em áreas de grande crescimento. A Basf gastou ? 4 bilhões na compra da americana Engelhard, ? 400 milhões na Johnson Polímeros e ? 2,2 bilhões pela divisão de químicos para construção da Degussa.

“Estamos sempre avaliando novas aquisições e oportunidades de investimentos, inclusive no Brasil”, disse Hambrecht ao Valor. A soma total das aquisições, quase ? 7 bilhões, superou o volume gasto nos últimos seis anos.

Não soa nada estranho a decisão de estudar matérias-primas renováveis no Brasil: grande produtor de etanol obtido a partir da cana-de-açúcar, o país tem um dos custos mais baixos do mundo.

As grandes indústrias químicas do mundo estão avaliando as potencialidades do uso de fontes alternativas ao petróleo e gás, o que poderá transformar a base de produção destas empresas nas próximas décadas.

Criada há 141 anos, a Basf fabrica químicos, plásticos e insumos para agricultura. Faturou 42,7 bilhões de euros no mundo em 2005, mais do que todas as outras empresas do setor, mas o grosso das vendas continua baseado no petróleo e gás.

No fim do ano passado, a Basf lançou seu primeiro plástico biodegradável, feito a base de milho. O material é misturado com outro produto – este, sim, feito à base petroquímica. E a mescla é usada para a conversão em sacolas de compras plásticas.

A intenção do grupo alemão é investir cerca de 100 milhões de euros na pesquisa e o desenvolvimento de fontes de novas matérias-primas renováveis entre este ano e 2008.

Hambrecht participou ontem de um evento no Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) para o lançamento do programa “ReAção”, que prevê o ensino de ciências na rede municipal de Guaratinguetá (SP), onde está o maior complexo industrial da Basf na América Latina.

A meta do programa é beneficiar 500 professores e cerca de 10 mil alunos das escolas do município. A empresa investirá R$ 300 mil no projeto em três anos, que pretende ser sustentável e oferecido a outras empresas e outros municípios, explicou o diretor da unidade industrial da Basf, Odilon Ern.