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Bancada de Enéas só aprovou uma lei

Destinatário do maior número de votos já recebidos na história por um candidato a deputado federal, Enéas Carneiro (Prona-SP) chegou à Câmara em fevereiro de 2003 pregando a “independência econômica do Brasil”. Trazia, além da oratória veemente e apressada, cinco colegas de partido também alçados à condição de deputado graças ao 1,57 milhão de votos que obteve.

Três anos e oito meses depois, a atuação legislativa da “bancada do Enéas” apresenta como resultado muita fumaça, laivos de corrupção e produção quase zero -o grupo teve só um projeto que virou lei, o que inseriu o almirante Barroso, comandante militar da Guerra do Paraguai (1864-1870), no “Livro dos Heróis da Pátria”.

Não se pode dizer, todavia, que eles não tentaram.

Enéas, Elimar Máximo Damasceno (o único que se manteve no Prona), Vanderlei Assis (foi para o PP), Amauri Gasques (PL), Ildeu Araujo (PP) e Irapuan Teixeira (PP) apresentaram, juntos, expressivos 120 projetos de lei.

Dia da verdade

Destaque para Elimar Máximo, com 78 deles. À exceção da inclusão de Barroso no livro dos heróis, ele não conseguiu sucesso em suas outras propostas, entre elas, a que criava o “Dia Nacional da Verdade”, a que estabelecia suporte psicológico a pessoas que “voluntariamente deixarem a homossexualidade” e a que transformava em contravenção penal “beijos lascivos” trocados em público por pessoas do mesmo sexo.

Todas elas ou foram para o arquivo ou dormitam em comissões da Câmara.

Ildeu Araújo também não viu prosperar seus dez projetos, entre eles o de distribuição gratuita de remédios contra a impotência sexual.

O projeto mofa desde 2005 na Comissão de Seguridade Social e Família.

Irapuan Teixeira direcionou a maioria de suas 15 propostas para a educação, mas o arquivo foi o destino de várias, como a que previa a obrigatoriedade do ensino religioso nas escolas particulares, a que incluía a Bíblia como livro didático obrigatório na disciplina de história e a que determinava a condenados por dois ou mais homicídios a “doação compulsória” da córnea, rim, pulmão ou fígado.

Enéas foi, dos seis, o mais econômico: apresentou apenas dois projetos de lei, mas nutre especial carinho pelo que estabelece a substituição completa dos combustíveis derivados do petróleo pelo etanol e por derivados de óleos vegetais.

“O projeto é para o país, não é para mim. Eu não conheço nenhum produtor de álcool, nenhum produtor de óleo vegetal. E meu projeto não falava que a base era o biodiesel [óleo vegetal misturado ao diesel], falava em óleo vegetal puro mesmo. Investimento que não é gigantesco, tudo perfeitamente factível, mas o poder das multinacionais é muito grande”, diz.

Barrados

Com exceção de Enéas, que teve 386.905 votos, cerca de 25% do que obteve em 2002, nenhum dos integrantes da “bancada” se reelegeu.

Com quatro deles acusados de envolvimento na máfia dos sanguessugas -Ildeu, Irapuan, Vanderlei e Gasques-, a votação direcionada a eles só não foi mais vexatória porque em 2002 ela foi menor. No dia 1º, os cinco juntos reuniram 24.205 votos. Em 2002, haviam sido somente 20.235.