A auto-suficiência na produção de petróleo trará ao Brasil, ainda este ano, o primeiro superávit para a balança comercial do setor. Pelas previsões da Petrobras, o saldo esperado em 2006 para o segmento de petróleo e derivados será de US$ 3 bilhões, ante um déficit de US$ 2,7 bilhões obtido em 2005. Na média dos últimos cinco anos, o déficit anual girou em torno de US$ 3,5 bilhões – o pior resultado ocorreu em 2000, quando o setor amargou um saldo negativo de quase US$ 6 bilhões, de acordo com dados computados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
Caso a estimativa da estatal se concretize, o item petróleo e derivados passará a figurar na lista dos dez principais setores superavitários do País. Considerando os resultados de 2005, o saldo de US$ 3 bilhões projetados pela Petrobras praticamente empataria com o valor obtido pelo segmento de aviões (de US$ 3,07 bilhões), e se aproximaria de açúcar e derivados (US$ 3,9 bilhões) e automóveis (US$ 3,57 bilhões).
O saldo esperado para o setor também ficaria à frente de madeira (US$ 2,95 bilhões), café (US$ 2,79 bilhões), aparelhos transmissores (US$ 2,09 bilhões) e calçados (US$ 1,85 bilhões).
O economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) se diz surpreso com estimativa da Petrobras e admite rever seus números. “Com a corrente comercial do petróleo positiva, é possível que o saldo da balança comercial supere os US$ 40 bilhões este ano”, afirma o economista, que, no momento, prevê um superávit de US$ 38 bilhões. Em 2005, o saldo comercial brasileiro atingiu o valor recorde de US$ 44,7 bilhões.
Almeida considera a conquista da auto-suficiência em petróleo como “um dos mais importantes acontecimentos ocorridos no País nos últimos anos”. “Se imaginarmos que o País já gastou US$ 6 bilhões com importações de petróleo e agora vai ganhar US$ 3 bilhões com a venda do produto ao exterior, estamos falando de uma corrente favorável ao Brasil de US$ 9 bilhões. Isso representa um complexo soja inteiro!”, exclama o economista, referindo-se aos embarques de soja e seus derivados (óleo e farelo)
Apesar do déficit na balança comercial do ano passado, o setor de petróleo e derivado tem
se destacado nas exportações. Em 2005, as vendas externas do segmento cresceram 58%, para US$ 9,07 bilhões, em relação aos US$ 5,73 bilhões obtidos em 2004. Em 2000, por exemplo, os embarques de petróleo e derivados ficaram abaixo dos US$ 2 bilhões. O aumento da produção e a elevação dos preços internacionais explicam os bons resultados do setor, que foi impulsionado sobretudo pelo excelente desempenho da gasoli-na. Os embarques do combustível atingiram US$ 1,1 bilhão no ano passado, uma alta de 87% sobre o resultado de 2004, de US$ 570 milhões. Já a venda externa de petróleo bruto subiu 65% no período, para US$ 4,2 bilhões, ante US$ 2,5 bilhões do ano anterior.
Além do petróleo e seus derivados, o álcool também aparece como item relevante na pauta de exportações brasileira. No ano passado, os embarques de etanol atingiram US$ 765,5 milhões, 54% acima do valor alcançado em 2004, de US$ 497,7 milhões, segundo dados divulgados pela Unica.