Grande parte das usinas do Centro Sul do País não está conseguindo formar reservas de álcool combustível para pleitear o financiamento de estoques liberado pelo Governo Federal. A necessidade de fazer caixa continua obrigando as indústrias o setor a comercializarem quase de imediato o que é produzido de álcool no dia-a-dia da safra. “Muitas empresas produziram etanol em maio, mas o produto foi para o mercado. No mês de junho, com o aumento do ritmo de moagem, é possível que as indústrias consigam formar estoques”, avalia Antônio de Pádua Rodrigues, diretor-técnico da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica).
O programa de financiamento entrou em operação no dia 5 de maio com previsão de recursos de R$ 1,3 bilhão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). As usinas têm de ter estocados 1,5 litro, para cada 1 litro financiado. Os recursos estão disponíveis para fi nanciar 2,31 bilhões de litros nesta safra. O objetivo é financiar os estoques das usinas para que elas não precisem ofertar muito produto no mercado. Com isso, espera-se uma menor volatilidade nos preços.
O Ministério da Agricultura (Mapa), responsável pela edição da medida, confirmou ontem, via assessoria de imprensa, que, apesar de a linha de crédito para estocagem já estar operando, o que ocorre é que muitos produtores não têm o produto disponível para estocar, pois estão vendendo tudo neste início de safra. “A expectativa é que entre junho e julho eles comecem a ter esse excedente de produtos”, diz a nota do Mapa.
Desde o começo deste ano, as cotações do biocombustível no mercado interno caíram cerca de 20%, do patamar de R$ 0,73 para R$ 0,59. Esse tipo de oscilação é muito comum entre a safra e entressafra e, com a crise de crédito, ficou ainda mais acentuada. “Mas, sabemos que o financiamento será seletivo. Nem todas as usinas vão conseguir acessar, pois os agent es financeiros estão com as mesmas exigências, como as de garantias e limites de crédito”, acrescenta Pádua.
José Carlos Toledo, presidente da União dos Produtores de Bioenergia (Udop), que representa as usinas do Oeste paulista, afirma que, de fato, além da falta de liquidez no setor, que limita a formação de estoques, também há dificuldades das usinas de atenderem às exigências das instituições financeiras.
Mário Silveira, da FCStone, também avalia que a partir de junho, com a melhor condição para produção de açúcar, as usinas devem priorizar a fabricação do adoçante e reduzir um pouco a pressão sobre a necessidade de vender álcool. “Tem muita usina moendo desde março e, a partir de julho, já começam a entregar açúcar para tradings, reduzindo a pressão sobre o álcool. A nossa visão é de que com o preço do açúcar onde está, a perspectiva é de boa remuneração com esse produto. As usinas vão produzir o máximo que puderem”, diz Silveira.