O Estado da Bahia, atualmente importador de álcool e açúcar, já se prepara para entrar na corrida pela produção do etanol. A idéia é ser auto-suficiente e possivelmente exportador em 2011.
Ao longo dos próximos dois anos a região terá cinco novas usinas produzindo álcool a partir da cana-de-açúcar e outras em processo de implantação, além das duas que fabricam atualmente.
No âmbito do Programa Estadual de Bioenergia, os baianos pretendem chegar ao ano de 2013 com 20 novas usinas produtoras de etanol, a maior parte das quais já deve estar em operação, segundo Eujácio Simões, superintendente de Agronegócios da Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária da Bahia (Seagri).
Do total de novas unidades, 10 serão construídas por grupos paulistas e de outras regiões do sul do País, utilizando tecnologia da indústria de base chinesa Frei Cheng. Os empresários interessados estão estudando as melhores áreas para fixar as instalações no extremo sul do estado e também no semi-árido.
O contato entre a indústria chinesa e os empresários brasileiros ocorreu como resultado da assinatura recente de um protocolo de intenções firmado entre o governo da Bahia, a Frei Cheng e uma consultoria -que prospecta negócios e teria atraído os empresários interessados.
Desde meados do ano passado, a Bahia vem recebendo visitas de empresários chineses e americanos interessados em conhecer os projetos de produção de etanol e em estreitar relações no setor, informou Rafael Amoedo, secretário da Indústria, Comércio e Mineração da Bahia.
Tecnologia estrangeira
“Com o boom do etanol, os custos de construção da parte industrial subiram mais de 100%. Para baratear, a alternativa é buscar tecnologias fora do País. Até a Petrobras está pensando nisso”, diz Simões, da Seagri. Ainda de acordo com a Seagri, a Frei Cheng tem tecnologia suficiente para a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar, já que atua como fornecedora para o setor sucroalcooleiro na Indonésia e na Índia.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Petrobras informa que a empresa prioriza fornecedores nacionais. Dependendo do tipo de processo de licitação -se for necessário obter tecnologia não desenvolvida no Brasil-, só então, nesse caso, a empresa importa know-how (acervo tecnológico ou de recursos humanos) de outros países.
Consumo e produção
A Bahia importou cerca de 580 milhões de litros de etanol no ano passado. Em 2006, o estado teve a necessidade de comprar 420 milhões de litros de seus principais fornecedores: São Paulo e Alagoas. A produção hoje é muito baixa na região. O consumo de álcool anidro e hidratado no estado chegou a 540 milhões de litros em 2006, enquanto a produção foi de 120 milhões de litros, segundo a Seagri.
Os dados de 2007 ainda não foram fechados, mas o consumo de 2007 foi estimado em 700 milhões de litros enquanto a produção se manteve igual à de 2006. Com a produção das novas unidades, a Seagri estima que o estado deva produzir 2 bilhões de litros em meados de 2013.
Novo porto
De olho na expansão do agronegócio baiano, o governo daquele estado deve finalizar nos próximos 60 dias o termo de referência para a licitação do projeto de construção do Complexo Portuário Porto Sul, a ser construído 22 quilômetros ao norte de Ilhéus, na Ponta do Ramo. O novo porto virá como solução para o atual gargalo estrutural existente nas demais instalações portuárias do estado -Salvador, Aratu e Ilhéus. O porto também atenderá às necessidades dos produtores de açúcar e álcool da região. Na primeira fase, até 2010, será possível escoar grãos e minério.
Para José Pessoa de Queiróz Bisneto, proprietário do Grupo José Pessoa, o porto pode ser um atrativo a mais para incentivar a produção de açúcar e álcool naquele estado. “A Bahia tem condições climáticas e geográficas favoráveis”, avalia. Renato Cunha, que representa produtores de Pernambuco, diz que o porto poderá ser alternativa para os produtores de Minas Gerais, que escoam açúcar e álcool via Espírito Santo. José Pessoa discorda: “Até Vitória há ramal ferroviário, o problema seria o ligamento até o porto”, avalia.
O decreto que desapropria a área onde será construído o complexo portuário foi publicado no último dia 20 de fevereiro no Diário Oficial. Estima-se que os investimentos públicos e privados, tanto no Porto Sul como em nova ferrovia que cortará a Bahia na horizontal, cheguem a R$ 4 bilhões entre 2008 e 2011.