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Avanço de estrangeiros em usinas preocupa o governo

O governo federal está preocupado com a possível desnacionalização do setor sucroalcooleiro do país, provocada pela maior participação dos grupos estrangeiros no segmento de açúcar e álcool. Atualmente, as companhias estrangeiras detêm cerca de 5% da produção de cana do país, ou seja, quase 20 milhões de toneladas de um total estimado em 420 milhões no Brasil.

Na última segunda-feira, o ministro da Agricultura Luís Carlos Guedes Pinto reuniu-se com empresários do setor sucroalcooleiro para discutir os volumes de produção da safra 2006/07. Durante a reunião, Guedes perguntou sobre a participação desses grupos estrangeiros no país.

Ontem, durante reunião dos empresários do setor com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em São Paulo, a ministra da Casa Civil Dilma Rousseff fez a mesma pergunta aos empresários. O Valor apurou que a ministra tinha uma lista de indústrias estrangeiras e questionou qual a participação desses grupos no país.

Guedes, que também participou do encontro ontem em São Paulo, disse ao Valor que a “intenção é saber se eles [estrangeiros] estão avançando no país somente com aquisições industriais ou também comprando terras”.

Uma das preocupações do governo é que o setor de energia alternativa do Brasil – que está nos holofotes do mercado internacional – seja dominado por multinacionais. Outra preocupação é se aquisições de terras por parte desses grupos, de alguma forma, criem uma saia justa nos programas de reforma agrária.

Segundo Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), não há risco de grupos estrangeiros adquirirem terras para plantio de cana no Brasil. “Os investimentos dos estrangeiros em usinas ocorrem da mesma forma que as aquisições de grupos nacionais. Ou seja, há aquisição da parte industrial, com arrendamento da área agrícola”.

Boa parte das usinas do Brasil trabalha com cana-de-açúcar própria em terras arrendadas e matéria-prima de fornecedores tercerizados, explicou Padua.

A entrada de estrangeiros no país teve início em 2000, com o grupo Louis Dreyfus. No ano seguinte, o Tereos (ex-Béghin-Say) entrou neste setor. Neste ano, os grupos de capital argentino e americano Adeco e a americana Cargill fizeram aquisições no país. O fundo Infinity Bio-Energy também adquiriu usinas.

O governo pediu para que as usinas forneçam detalhes dos investimentos dos grupos estrangeiros no país. O governo também aguarda um estudo que está sendo realizado pelas usinas para avaliar se aprova a elevação da mistura do álcool na gasolina dos atuais 20% para 25%. A redução da mistura da gasolina foi aprovada no início deste ano, como forma de aumentar a oferta do combustível no país durante o período de entressafra.

Segundo Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da Unica, a safra de cana de açúcar no centro-sul será 12% maior nesta safra. Carvalho disse que cerca de dois terços da produção de cana já foram processados e que os volumes de álcool são suficientes para garantir o abastecimento no mercado interno até a próxima safra.

Guedes afirmou que está aguardando o estudo que está sendo realizado pelas usinas para que o governo avalie se aprova ou não a mistura do álcool na gasolina.