Mais investimentos, novos modelos, vendas recordes todos os meses e feirões nos finais de semana. Carros zero quilômetro ou usados, adquiridos pelas emergentes classes D e E, são a sinalização de que a indústria automobilística está colocando o Brasil como um dos seus principais focos no mundo. Ainda temos os carros tipo flex, que podem usar tanto gasolina como álcool, o que nos permite ir driblando a auto-suficiência de petróleo, ainda não alcançada. A industrialização do Brasil começou com Getúlio Vargas e a implantação de Volta Redonda. O País passou a ter aço e, com ele, indústrias. A visão política e econômica de Getúlio Vargas o levou a apoiar, como deveria, os Aliados na II Guerra Mundial. Com a Força Expedicionária Brasileira, FEB, e o 1º Grupo de Aviação de Caça, o Brasil foi o único país latino-americano a lutar ao lado dos EUA no teatro de operações da Europa. Apesar das lendas urbanas criticando a nossa participação afirmando que os nossos combatentes foram “bucha para canhão”, há ainda hoje o reconhecimento de chefes militares estadunidenses sobre o desempenho dos nossos pracinhas e aviadores. Em troca, o popular líder pediu e ganhou uma usina siderúrgica. Passaram-se 10 anos e Juscelino Kubitschek desfilava em um veículo conversível da Volkswagen, o “Fusca”, inaugurando a fabricação em território nacional dos tão-sonhados automóveis. No entanto, foram necessários transcorrer quase 50 anos para que o acesso a esse sonho de consumo de 10 entre 10 brasileiros chegasse às camadas mais pobres. Com 40% de impostos pesando sobre as rodas dos veículos made in Brazil, só os de maior poder aquisitivo tinham condições de adquirir automóveis.
Criamos os consórcios que permitem às pessoas fazer uma poupança programada para a compra do bem. Atualmente, com prazos cada vez mais longos em até sete anos nos financiamentos, o sonho tornou-se realidade. Prazos longos, juros baixos e automóveis populares movidos a álcool ou gasolina estão fazendo a indústria automobilística bater todos os recordes. Com uma capacidade de produção instalada de três milhões de unidades por ano, a previsão em 2008 é a venda de mais de 2,8 milhões de veículos. Mês a mês o setor derruba números, as pessoas concretizam o sonho, e as ruas, avenidas e rodovias das cidades, dos estados e os caminhos ficam entupidos de automóveis, misturados a caminhões, ônibus e, no caso gaúcho, até mesmo a carroças. A mobilidade social que está ocorrendo, com a inflação baixa, a recomposição do salário mínimo e a retomada do desenvolvimento econômico, facilitou como jamais antes o acesso ao automóvel. Da mesma forma, compra-se no varejo todo o tipo de eletroeletrônicos e eletrodomésticos, em prestações que às vezes não chegam a R$ 10,00, uma dádiva socioeconômica pouco imaginada até mesmo pelo mais otimista dos políticos. As explicações para o que está ocorrendo no Brasil não são simples, menos ainda estão na boca do povo. Entretanto, nunca foi tão fácil comprar, consumir. E quem consome, existe, para desespero daqueles que maldizem essa maré de produção de coisas das quais, às vezes, sequer se tem real necessidade. No rastro da euforia sobre quatro rodas temos o problema das vias urbanas, onde Porto Alegre precisa de mais viadutos, alargamentos de avenidas e abertura de novas, do Centro, para o Centro e ligando as zonas Sul e Norte. As perimetrais ligam bairros, mas até elas parecem que deixam a desejar em alguns quesitos. O fundamental é que todos têm a chance de comprar um automóvel, seja zero km, seminovo ou usado.