Os presidentes do Mercosul se reúnem nas próximas quinta e sexta-feira em Montevidéu com a atenção dividida entre dois temas: resolver as divergências dentro do bloco e articular o avanço das negociações para o encontro ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Hong Kong, na semana seguinte. O grande desafio é evitar um novo fracasso da Rodada de Doha. As diferenças entre Brasil e Argentina terão de ser deixadas de lado, pois o Mercosul precisa estar unido para enfrentar a resistência dos ricos a abrirem seus mercados para as exportações agrícolas dos países em desenvolvimento.
Por outro lado, a cúpula de presidentes — que terá como convidados os líderes dos países da Comunidade Andina de Nações e do Chile, já associado ao Mercosul — será um teste para os novos ministros argentinos. O Itamaraty espera que os novos titulares das pastas de Economia, Felisa Miceli, e Relações Exteriores, Jorge Taiana, não sejam linha-dura como seus antecessores.
O presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), José Botafogo Gonçalves, acredita que temas centrais, como o fim da lista de exceções à Tarifa Externa Comum (TEC), o livre mercado de automóveis, a criação da cláusula de adaptação competitiva (CAC) e a eliminação do imposto de importação argentino sobre o açúcar, ficarão para depois.
Ingresso de Chávez no bloco também gera expectativa
O pessimismo tomou conta de diversos setores empresariais, que estão menos preocupados com Montevidéu e mais atentos a Hong Kong, segundo o consultor internacional Adimar Schievelbein:
— É preciso levar em conta a sensibilidade de setores como o têxtil e o calçadista na redução de tarifas. O governo brasileiro não poderá ceder em tudo na área industrial para ter ganhos na agricultura.
Na semana passada, o Brasil insistiu, em uma reunião com representantes de Estados Unidos, Índia, União Européia, Japão e Austrália, em Genebra, na elaboração de um rascunho da declaração ministerial a ser assinada em Hong Kong, a fim de evitar o desastre total. Mas as divergências são acentuadas.
Outra expectativa em relação à cúpula é a possibilidade de o polêmico presidente da Venezuela, Hugo Chávez, entrar como sócio pleno do Mercosul. Chávez ainda precisa assinar o Tratado de Assunção e aderir à TEC. Para isso, terá de convencer o povo venezuelano de que será bom abrir seu mercado aos produtos do Mercosul.