O Brasil deve alcançar a autosuficiência em gás natural até 2009. A previsão é do presidente da Petrobrás, José Sergio Gabrielli, que estimou para este período um acréscimo de mais 24 milhões de m³ diários na produção. O incremento virá basicamente do Espírito Santo, sendo 16 milhões de m³ do Campo de Golfinho e 6 milhões da Bacia de Campos em território capixaba, além de 1,5 milhão da Bacia de Santos.
Mas a principal promessa na produção de gás, o Campo de Mexilhão, em Santos, terá de esperar até 2008 o equipamento necessário à sua operação. A Petrobrás já está fazendo cotação no mercado internacional para afretar nova unidade de produção para o Espírito Santo.
Gabrielli disse que o aumento na produção só está se tornando possível porque a empresa descobriu novas reservas na região. Mesmo com a perspectiva de auto-suficiência, o presidente da estatal defende a manutenção do contrato de compra de gás natural da Bolívia, de onde o Brasil importa cerca de 26 milhões de m³ diários (com obrigatoriedade de pagamento de 30 milhões, devido ao contrato take or pay). Temos um contrato assinado que vigora até 2019 e quero manter esse contrato, ressaltou Gabrielli, em entrevista depois de participar de palestra na Câmara Britânica de Comércio. Além do aumento da produção interna, a Petrobrás está analisando diversas alternativas. Gabrielli disse que o Campo de Mexilhão vai exigir instalações especiais e a empresa não está conseguindo afretar navios para fazer o lançamento dos cabos necessários à sua exploração, o que só ocorrerá em dois anos. Não há navio próprio no mundo, justificou.
Gabrielli citou a possibilidade de afretar duas unidades de regaseificação (GNL), sendo uma no Rio de Janeiro (com capacidade de 12 milhões a 14 milhões de m³ diários) e outra para o Ceará (6 milhões de m³). Uma opção não exclui a outra.
São projetos que podem ser desenvolvidos de forma simultânea, observou.
A Petrobrás prevê que o Brasil estará consumindo cerca de 100 milhões de m³ de gás natural em 2010, ante os 60 milhões atuais. O executivo confirmou que a Petrobrás está analisando também a redução do consumo de gás natural nas atuais refinarias, que seria substituído por óleo combustível. Isso exigiria autorização dos órgãos responsáveis pelo meio ambiente.
Outra opção é ampliar o uso de combustível vegetal. A Petrobrás está fazendo diversas experiências na área do diesel, que deverá ser substituído parcialmente por fontes vegetais. Até o uso de etanol para usinas térmicas de geração de eletricidade será testado.
Para aumentar a produção de gás no Espírito Santo, a Petrobrás terá de construir um novo gasoduto ligado ao Rio de Janeiro (Vitória-Cabiúnas). A partir daí, o gasoduto será interligado a Duque de Caxias, de onde poderá abastecer Campinas, com a conclusão do gasoduto entre as duas cidades, o que deverá ocorrer no fim deste ano.
Indagado sobre o abastecimento de gás natural para o Nordeste, Gabrielli foi evasivo, ressaltando apenas que isso só deverá ocorrer a partir de 2009: Isso vai depender do gasoduto Gasene ficar pronto. Esse gasoduto deve utilizar o gás que será produzido em Mexilhão, na Bacia de Santos.
O presidente da Petrobrás disse que a estatal continua mantendo negociações com autoridades bolivianas. Segundo ele, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que está em La Paz, cuida de outras negociações. Não vamos ficar negociando pela imprensa. Mas toda semana, os grupos de trabalho se reúnem em busca de soluções, disse Gabrielli .