Mercado

Argentinos protestam contra invasão brasileira

“Avalanche”, “invasão”. Novamente os industriais argentinos voltam a acusar um aumento das importações de produtos brasileiros no país. Como em anos anteriores, o setor de calçados é o que lidera o “pataleo” (esperneio) local. Segundo a Câmara da Indústria do Calçado (CIC), neste ano as vendas de calçados brasileiros para o mercado argentino crescerão 150% na comparação com 2002.

Segundo o presidente da CIC, Carlos Bueno, o Brasil estaria aproveitando a leve recuperação da economia argentina para colocar seus produtos. No primeiro semestre, afirma, houve um aumento de 36% em volume (e 55% em valor) das vendas brasileiras. No entanto, a Câmara de Produção e Comércio Internacional de Calçado e Afins (Capcica), diz que as vendas brasileiras para o mercado local equivalem apenas a 40% do total exportado para a Argentina em 2001. O crescimento em 2003, em comparação com 2002, seria explicado pela contração da economia argentina no ano passado e a conseqüente redução das importações.

Além dos calçados, há reclamações também no setor de têxteis – estaria ocorrendo uma “invasão” de toalhas de banho e cobertores – e entre os criadores de suínos.

Há três semanas, o ministro da Economia, Roberto Lavagna, declarou que “poderia” ocorrer uma invasão de produtos brasileiros, depois de reunir-se com a União Industrial Argentina (UIA), que pediu-lhe salvaguardas comerciais para proteger alguns setores argentinos de uma “invasão” brasileira.

Para o presidente da Câmara dos Importadores, Diego Santisteban, “em 1999, com a desvalorização do real, até poderiam ter existido condições mais objetivas para uma invasão. Mas, atualmente, com o tipo de câmbio da Argentina, depois da desvalorização do peso, não há possibilidade alguma”.

Ele afirma que são sempre os mesmos setores que reclamam: “Isso me leva a perguntar se não faz parte de uma estratégia permanente desses setores.”

Nos últimos quatro anos a Argentina foi vítima de diversas “invasões” que nunca ocorreram, mas motivaram pedidos e pressões no governo por benefícios ou isenções. Em fins de 1999, a UIA fez anunciou ter um relatório que indicava que pelo menos uma centena de empresas argentinas preparavam-se para deixar o país para instalar-se no Brasil. Carlos Ruckauf, na época governador da província de Buenos Aires, chegou a afirmar que os municípios brasileiros eram “corsários” que levavam empresas argentinas com o atrativo de benefícios fiscais. As empresas não deixaram a Argentina e a própria UIA admitiu que o relatório não existia.

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