A francesa Areva reuniu um pacote de dez usinas de geração de energia a partir do bagaço da cana-de-açúcar no Nordeste. A empresa será minoritária em todos eles, que serão construídos em parceria com usineiros de Pernambuco e Alagoas. Cada unidade terá potência de 50 megawatts (MW) e o investimento total somará R$ 1,2 bilhão.
O objetivo da Areva é fortalecer seus negócios de biomassa no Brasil, que começaram a partir da aquisição de 70% da pernambucana Koblitz no ano passado. Em 2008, a unidade brasileira teve um faturamento líquido de R$ 270 milhões, mas a expectativa é chegar a 2012 com R$ 1 bilhão em vendas.
“Calculamos que hoje menos de 5% da energia usada no mundo tenha origem em fontes renováveis, porém daqui a uma década alcançará 20%. É por isso que, apesar da crise, não vamos parar de investir”, diz Anil Srivastava, presidente da unidade mundial de energias renováveis da Areva.
Se por um lado a turbulência econômica mundial não brecou a expansão da companhia, por outro ela teve de se adaptar à realidade atual. Segundo Srivastava, a Areva Koblitz decidiu tornar-se sócia das dez usinas para conseguir fechar a necessidade de capital, inclusive o financiamento de 75% do capital investido. A empresa conversou com diretores do BNDES e do BNB na região, que mostraram disposição em bancar os projetos.
A Areva pretende vender suas participações em cinco anos. Em outras condições da economia, ela forneceria a tecnologia para as usinas, sem se associar ao projeto.
O primeiro contrato de sociedade foi assinado sexta-feira com a usina Seresta, do governador alagoano Teotônio Vilela (PSDB), e outros serão firmados ao longo das próximas semanas com grupos como Petribu e JB. Cada projeto será encaminhado separadamente ao BNDES, com pedidos específicos de financiamento.
O projeto começou pelo Nordeste por causa de algumas características específicas da região. Uma delas é que a cana das plantações nordestinas tem menos açúcar e mais bagaço, o que eleva o potencial de geração de energia. “Além disso, o Nordeste carece de novas fontes geradoras de energia”, diz Luiz Otávio Koblitz, presidente da Koblitz. Mas a ideia é expandir para o Sudeste.
O que tem atraído os produtores para a geração de energia, segundo Koblitz, é conseguir a partir da cana gerar energia para o funcionamento da própria usina, além de um excedente para a venda. Com isso, os usineiros podem ter uma nova fonte de receita.
Os planos da Areva para o Brasil, porém, não param na biomassa. “O território brasileiro é rico em todos os tipos de energia renovável: vento, água, biomassa e luz solar”, diz Srivastava. A empresa está interessada em implantar grandes unidades para gerar energia a partir do sol, uma tarefa que caberá ao fundador da Koblitz. Também ficará a cargo dele exportar para a Índia a tecnologia das pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). No Chile e Panamá, a Koblitz está colocando em operação algumas PCHs.
Em 2008, a Areva registrou no mundo faturamento de 13,2 bilhões, aumento de 10,4% em relação ao ano anterior. Hoje, cerca de 80% da receita da companhia vem da energia nuclear. O lucro líquido caiu de 743 milhões para 589 milhões por causa do pior resultado financeiro.