Turbulência é uma expressão que parece desconhecida do vocabulário dos donos de terras com fim agrícola em algumas regiões de Minas. De acordo com o mais recente Relatório de Terras da AgraFNP, as áreas mineiras mais valorizadas estão localizadas no entorno de Pouso Alegre, no Sul do estado. Cada hectare de terra agrícola com café valia cerca de R$ 14,4 mil em janeiro e fevereiro em Alfenas, Guaxupé e Varginha. Na contramão do bom resultado, as terras mais baratas foram encontradas em Montes Claros, no Norte de Minas, por R$ 125 o hectare de cerrado inaproveitável.
Não há dúvida de que grandes empreendimentos do setor produtivo podem influenciar todo o mercado de terras, inclusive áreas estabelecidas na vocação agropecuária. Se essas novas atividades dependerem de algum insumo vegetal, a exemplo do carvão vegetal para a siderurgia, a influência pode ser maior, analisa Jacqueline Bierhals, gerente d! e Agroenergia da AgraFNP. Um dos exemplos recentes dessa interferência está na expansão do plantio de cana-de-açúcar no Triângulo Mineiro, que deslocou a pecuária, para atender os projetos das usinas sucroalcooleiras.
%u201CO produtor é fiel à terra, mas nada resiste ao capitalismo. Se ele enxergar a possibilidade de obter rentabilidade maior, não há porque não migrar de atividade%u201D, afirma Jacqueline. Ela considera surpreendentes os preços pesquisados este ano, a despeito da terremoto irradiado das bolsas de valores em setembro do ano passado. A valorização de terras tem sido mais perceptível nas chamadas regiões de fronteira agrícola, como Norte e Nordeste.
Um dos motivos que leva a especialista a acreditar que as cotações vão se manter é a preocupação no mundo com áreas para a produção de alimentos e biocombustíveis. Isso sem contar a insegurança dos investidores de voltar às bolsas de valores, quando a ! terra, historicamente, é avaliada como ativo seguro para investimento. Em municípios como Conselheiro Lafaiete, a 100 quilômetros da capital mineira, a discussão já provoca escassez de áreas mais atraentes para os grandes empreendimentos, observa José Osvaldo Moreira, há 18 anos no mercado imobiliário.
Lafaiete está no circuito de áreas exploradas pela mineração na Região Central de Minas. Segundo José Evangelista Ribeiro, as terras do Norte de Minas, propícias para plantio de eucalipto e oleaginosas, voltaram a ser procuradas por investidores da Alemanha, Áustria, Espanha e Argentina. Nas áreas do Centro do estado, outro fator de aquecimento do mercado, de acordo com o corretor, é o turismo incentivado pela Estrada Real, o caminho imaginário e em parte construído pelos escravos no século 18, ligando Minas ao Rio de Janeiro.