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Aralco investe nos cortadores de cana oferecendo aperfeiçoamento profissional

O período correspondente à safra da cana-de-açúcar ganha, a partir de 2004, um significado diferente para os cortadores de cana da usina Aralco, com sede em Santo Antônio do Aracanguá. No período de abril a novembro, os trabalhadores rurais da empresa, do sexo masculino, que moram no Centro Habitacional Temporário da Aralco (Cehata), voltam às salas de aula para participar de um aperfeiçoamento profissional. A idéia surgiu do departamento agrícola da empresa que se interessou em oferecer cursos de informática, mas detectou durante a seleção que dos 200 trabalhadores que vivem no centro, cerca de 40 eram analfabetos.

Em parceria com a Prefeitura de Santo Antônio do Aracanguá que disponibilizou os professores do município, o Projeto de Requalificação Orientada e Alfabetização de Alunos (Proalfa) inaugurou, no final do mês de maio, duas salas de aula. Os grupos foram divididos em duas turmas a partir do grau de aprendizado dos alunos: o nível I, correspondente à primeira série do ensino básico, formada por 16 pessoas, e o nível II, que corresponde à segunda série do ensino básico, por 18 homens. Os professores adotam o método construtivismo e as aulas acontecem cinco dias por semana, das 18h às 20h30. “Estamos há mais de um mês trabalhando com eles e já foi possível notar a evolução dos alunos. Eles tinham dificuldade em escrever o próprio nome e hoje já escrevem pequenos textos coesos e coerentes. É muito gratificante”, afirma a professora do nível II, Rita de Cássia Rodrigues do Nascimento Oliveira.

Na próxima semana, os alunos ganharão uma biblioteca estruturada com a doação de livros dos funcionários da empresa e da comunidade de Santo Antônio do Aracanguá. A sala de informática atende, desde a semana passada, 80 cortadores de cana que possuem nível de escolaridade superior aos alfabetizados. O curso, com duração de cinco meses, é ministrado nos dias de folga dos trabalhadores. A cada cinco dias, o cortador de cana tem direito ao descanso. Cada aula dura uma hora e meia e o aluno receberá noções básicas de Windows, Word e aprenderá a navegar na internet. O material didático, tanto para as aulas de alfabetização como para as de informática, são fornecidos pela empresa. “Os alunos me surpreenderam na primeira aula, mostraram que sabem mais do que eu esperava. Revelam que têm capacidade e interesse, gravam o que estou falando e questionam quando têm dúvidas”, explica a professora voluntária de informática Thaiane Navarro Rodrigues de Campos.

Para ela, a empresa está preocupada com o desenvolvimento dessas pessoas, pois lembra que os alunos não utilizam a informática no corte da cana. “Hoje, são cortadores de cana, amanhã não sabemos o que farão. O mercado de trabalho está concorrido e exigente”, salienta Thaiane. O aluno do nível II José Nogueira quer estudar para se empregar em um trabalho que lhe ofereça mais condições. “Quem não luta não vence. Para mim significa esperança, sou muito jovem”, diz. Nogueira completou apenas a primeira série, quando tinha nove anos, na cidade de Espinosa (MG). José Pereira da Silva, que também cursa o nível II, confessa que nunca deu valor à educação, mas hoje admite que o estudo fez falta na vida. “Depois que caí na realidade, vi que se tivesse estudado, teria sido melhor para mim. Eu tive oportunidade, não estudei e hoje eu luto”, afirma. Silva conta que incentiva os seis filhos em idade escolar a completar os estudos. A esposa segue pelo mesmo caminho, em Senador Modestino Gonçalves (MG) onde reside a família. Ela cursa o supletivo para o primeiro ano do ensino médio.

O aluno de informática José Aparecido Tolentino conta que sempre demonstrou vontade de aprender informática, mas as condições não o favoreciam por falta de recursos. “Está acabando o trabalho manual, o computador está tomando o serviço de muita gente. Os melhores empregos estão ligados a informática”, constata Tolentino. De acordo com ele, parte do dinheiro ganho na safra de 2004 vai custear a continuidade dos estudos em Espinosa (MG). Ele almeja trabalhar no setor administrativo da usina. “Já trabalhei em três ou quatro usinas e é a primeira vez que tenho uma oportunidade como essa. Acho que a empresa quer acabar com o analfabetismo, não quer explorar os trabalhadores, por isso vem muita gente para cá. No ano que vem pretendo trazer mais gente da minha família”, afirma.

O gerente agrícola Antônio Osório de Freitas explica que a empresa procurou levar o funcionário a se envolver com o processo produtivo, realizando atividades como a organização de visitas pela usina, levando os cortadores a conhecer o processo de produção da Aralco, que até então eles não conheciam, e a perceber a importância do trabalho deles no produto final. De acordo com Osório, o objetivo é valorizar o cortador de cana da empresa. A Aralco promove cursos, que envolvem os 1.100 cortadores de cana, para ensinar ao empregado noções básicas de higiene, disciplina e utilização correta dos equipamentos de segurança, de forma descontraída. Ele conta que a empresa percebeu que trabalhos, antes realizados apenas com funcionários da área industrial, como palestras motivacionais, poderiam ser abordados também com essa mão-de-obra.

“Eles recebem muito bem a mensagem e tornam-se mais acessíveis no momento que são cobrados pela qualidade do serviço prestado”, acredita Freitas. O principal evento realizado pela Aralco é a Semana de Valorização do Trabalhador Rural da Aralco, Este ano, em sua terceira edição, foi realizada de 25 a 27 de junho e envolveu os 1.100 trabalhadores, divididos em três grupos, um para cada dia do evento. A programação incluiu a palestra do professor Alfredo Rocha, consultor na área de motivação empresarial, que abordou a preparação para o mercado de trabalho através do aprendizado de idiomas e informática, alcançando o intuito do projeto Proalfa. “Ministro palestras nas maiores empresas do Brasil e do mundo, tenho certeza de que esse trabalho que a Aralco desenvolve, além de trazer qualidade para a empresa, contribui para a qualidade de vida das pessoas. A empresa do futuro é a que colocará as pessoas à frente de tudo. O Brasil precisa de mais empresários com essa visão humana”, declarou Rocha durante a palestra.

“Durante duas horas, não falamos do seu trabalho, mas procuramos enviar mensagens. O pessoal sai dessas palestras revigorado. Procuramos aliar o aspecto profissional ao pessoal”, afirma Freitas. A 3ª Semana de Valorização do Trabalhador Rural da Aralco contou ainda com a apresentação da dança folclórica Boi-Bumbá do Maranhão, partidas de futebol e confraternização entre os funcionários. Para Freitas, as atividades criaram clima harmonioso na empresa, qualidade no serviço e ganhos de produtividade. Outra preocupação da Aralco é preencher, de forma saudável, o tempo dos trabalhadores que vivem no Cehata, além de amenizar a saudade da família, que permanece nos Estados de Minas Gerais e Bahia. “Eles começaram a dar importância para o que antes não tinha nenhum significado. Não tenho dúvida de que o projeto vingou. Acredito que o Proalfa tem muito espaço para crescer”, conclui Freitas.

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