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Após boom, exportações de álcool do Brasil podem recuar em 05

O setor sucroalcooleiro brasileiro inicia 2005 comemorando as exportações recordes de álcool no ano passado, que ultrapassaram a expectativa inicial e, segundo muitos, marcaram o início da transformação do produto em uma commodity internacional.

Mas, para alguns analistas, o próximo ano comercial pode não guardar perspectivas tão otimistas, devido a possíveis alterações na conjuntura, tanto no mercado interno quanto no exterior.

“A nossa previsão é de que as exportações de álcool em 2005/06 serão menores do que as de 2004/05”, afirmou Plinio Nastari, presidente da consultoria Datagro.

A projeção da Datagro para 2005/06 (maio-abril) aponta para 2,2 bilhões de litros, ante uma previsão de 2,47 bilhões de litros na temporada 2004/05.

“Um dos motivos é que deve haver um aumento na demanda doméstica, reduzindo o excedente exportável de álcool”, afirmou Nastari.

Em 2004, a demanda interna pelo combustível também cresceu, mas essa expansão ocorreu a partir de meados do ano, num momento em que boa parte das exportações já havia sido realizada.

Além disso, a forte alta do petróleo e consequentemente aumento da gasolina, que impulsionaram a competitividade do álcool no ano passado, podem não se manter em 2005, afirmou Júlio Maria Borges, da Job Economia.

“Não está claro que os embarques vão crescer. Eles vão depender muito, entre outros fatores, dos preços do petróleo, e ninguém tem a garantia de que eles vão se manter em alta”, afirmou Borges.

Reforçam o cenário o aumento dos preços do álcool no mercado brasileiro –gerada entre outros fatores pelo aquecimento das próprias exportações, que reduziu a oferta interna– e a valorização do real frente ao dólar.

“O câmbio sobrevalorizado para o real torna as exportações menos atrativas”, disse Nastari.

Outro fator que pode limitar os embarques é a própria incapacidade das usinas brasileiras.

Segundo Nastari, a produção total de álcool começa a se aproximar da capacidade atualmente instalada do setor. Maiores volumes dependeriam de novos investimentos, afirma ele.