Diante do pagamento de taxas atrativas, os fundos de investimento em crédito privado aumentaram a participação de Cédulas de Crédito Bancário (CCB) na carteira para elevar o seu retorno. Só neste ano o estoque de CCBs registrado na Câmara de Custódia e Liquidação (Cetip) atingiu R$ 18,5 bilhões, crescimento de 90,7% em relação ao mesmo período do ano passado, que somou R$ 9,7 bilhões.
As CCBs são títulos lastreados em operações de crédito, emitidos por pessoa física ou jurídica em favor de uma instituição financeira. No entanto, por não oferecerem as mesmas garantias como um papel de debênture, que exige registro de oferta pública na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ou mesmo um título de Certificado de Depósito Bancário (CDB), a aplicação em CCBs requer análise de risco mais atenta por parte dos gestores em relação à empresa cujas as operações estão lastreadas.
No mês passado, o fundo de investimento em renda fixa, Besc Prime, do Banco do Estado de Santa Catarina, teve problemas com a falta de pagamento de parcela da operação de CCB de emissão da empresa CBAA- Companhia Brasileira de Açúcar e Álcool, que chegou a impactar a rentabilidade do fundo com o ajuste do valor do ativo. O fundo, no entanto, conseguiu fechar o mês de julho com rentabilidade positiva de 60% do CDI, acumulando no ano retorno de 6,02%.
A aplicação em CCBs representa 5% do total de ativos do fundo, que têm hoje patrimônio de R$ 700 milhões.
O banco tem ainda outro fundo de crédito privado, Besc Prático, de patrimônio de R$ 282 milhões, que possui atualmente cerca de 12% da carteira aplicado em crédito privado, sendo 20% desses papéis em CCBs. De acordo com uma fonte do banco, os fundos só podem aplicar em títulos de baixo risco de crédito e em papéis de curto prazo, devido à falta de liquidez para a negociação de CCBs no mercado secundário, o que os obriga a ter que carregar os ativos até a data de vencimento. No caso da CCB da CBAA, de prazo de 14 meses, o fundo terá que ficar com o papel em carteira até o seu vencimento em dezembro de 2008.
A falta de liquidez no mercado secundário de CCBs acaba prejudicando também a marcação a mercado desses papéis, já que não há não há um padrão para precificação desses ativos.
No ano passado, o fundo DI da BRB Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliário, BRB Líder, também teve que trocar o CCB da EletroDireto, que havia entrado com pedido de recuperação judicial, por um CDB para não prejudicar o retorno do fundo.
Segundo o diretor-presidente em exercício da BRB DTVM, Flávio Couri, a política de investimento do fundo deixava claro a possibilidade de aplicação em títulos de crédito privado, bem como tratava de seus riscos.
De acordo com o superintendente geral da Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (Andima) , Paulo Eduardo de Souza Sampaio, a aplicação em CCBs requer análise de crédito correta por parte dos gestores. Em julho, a instituição divulgou parecer de orientação nº 11/08, do Comitê Operacional e de Ética da Andima , sobre a emissão e negociação de CCBs.
Preocupada com o crescimento da emissão de CCBs, a CVM estuda exigir seu registro das CCBs nos casos de oferta pública.
Para Sampaio, a CCB é um título de crédito e, portanto, não requer o registro como ativo de empresa de capital aberto.
Para Dara Chapmana, da área de Relações com Investidores da Polo Capital Management, embora apresente menor garantia que um título mobiliário, as CCBs podem oferecer interessante rendimento. A gestora atua na estruturação de CCBs, com ticket médio de R$ 5 milhões, de empresas de médio porte, com o objetivo de manter os títulos, que chegam a pagar cerca de 150% do CDI, em carteira do fundo Polo Crédito.
Dara destaca que para aumentar a segurança dessas operações a gestora atrela algumas restrições através de cláusulas contratuais, chamadas de convenants, nos contratos de empréstimos, que podem ser limitadores de endividamento, de protestos, ou qualquer indicador que aponte dificuldade financeira, que facilitam a execução das garantias dadas nas operações de CCBs. “Caso a empresa descumpra alguma dessas condições conseguimos executar os títulos antes mesmo da companhia ir à inadimplência”. Hoje a gestora tem cerca de R$ 8 milhões a R$ 9 milhões aplicado em CCB.