Mercado

Aos 30 anos, o Proálcool recupera seu lugar nas ruas

Goldemberg acredita que se a origem da onda de furacões no Caribe e no sul dos Estados Unidos for mesmo o aquecimento global, o petróleo deverá perder mesmo terreno no mercado, abrindo um imenso espaço para o álcool combustível.

O Proálcool foi duramente criticado na época de sua criação porque boa parte dos recursos investidos no setor foi praticamente doada aos usineiros pelo extinto Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) para que ampliassem e modernizassem suas indústrias. O resultado é uma vigorosa capacidade produtiva, uma infra-estrutura nada desprezível e o domínio de uma tecnologia que o mundo tenta copiar.

O objetivo inicial era mesmo poupar divisas. Na ocasião, o preço do barril do petróleo tinha ultrapassado a barreira dos US$ 40, o que, em valores de hoje corresponde a US$ 90.

Inicialmente o álcool era subsidiado e vendido na bomba por um preço inferior ao da gasolina, o que conquistou o bolso do consumidor. Nos anos 70, quase 98% dos veículos vendidos eram movidos a etanol e o programa tinha tudo para deslanchar, até que faltou combustível no mercado e o programa foi jogado no limbo nos anos 80, até ser finalmente desativado em 1990, no governo Collor.

Quanto aos ganhos, a cifra mais aceita são os US$ 44 bilhões que o Brasil deixou de gastar desde que o Proálcool que foi criado. O valor foi mencionado na semana passada pela ministra Dilma Rousseff. Para ela, significa o total de divisas economizadas pelo Brasil nas últimas três décadas. Para os especialistas, o Proálcool representou mais do que isso, já que, nesse período, o País teria deixado de queimar 300 bilhões de litros de gasolina e, com isso, poupado a atmosfera com a emissão de carbono em volume proporcional.

O cálculo sobre a preservação do meio ambiente foi feito pelo diretor do Departamento de Açúcar e Álcool do Ministério da Agricultura, Angelo Bressan, para quem a questão ambiental é mais importante do que a econômica. “Cada vez que produzimos energia renovável, estamos contribuindo para deixar no subsolo um volume expressivo de carbono, ao evitar a extração de petróleo “, disse. O efeito disso, segundo afirmou, é multiplicado, porque as lavouras de cana absorvem carbono da atmosfera para realizar a fotossíntese.

Segundo Roberto Rezende Barbosa, da usina Nova América, o papel do Proálcool foi preparar o País, com uma inédita margem de vantagem, para atender a esse imenso mercado que se forma. O Brasil terá de ampliar suas lavouras em mais de 50% e investir R$ 30 bilhões nas usinas. Ainda assim, atender ao mercado externo será um desafio, já que a demanda interna por álcool não pára de crescer.