O ceticismo com relação à soja está diminuindo entre os produtores. Os mais beneficiados são os do Sul, que estão fechando negócios a US$ 13 por saca. Nas regiões mais distantes do Centro-Oeste, porém, a rentabilidade ainda não é tão clara. “A soja não deve dar prejuízo. No limite, empata”, diz André Pessôa, da consultoria Agroconsult, referindo-se a essa região.
Anderson Galvão, da consultoria Céleres, diz que esse aumento de preços viabiliza a produção em muitas áreas antes inviáveis. Fernando Muraro, da Agência Rural, vai além e diz que, se o câmbio não tivesse tão depreciado, o novo patamar de preços da soja -próximo de US$ 7 por bushel (27,2 quilos)- poderia significar “o início do fim da crise do agronegócio”. Para que isso acontecesse, o dólar deveria estar em R$ 2,40, segundo ele.
Todos os analistas são unânimes: os produtores devem vender um volume de soja suficiente para pagar as dívidas de curto prazo, que aparecem logo após a colheita, e reservar o restante para negociações futuras.
Na avaliação desses técnicos, eventuais problemas climáticos na América do Sul e a confirmação de redução de área nos Estados Unidos vão dar novos suportes ao preços da oleaginosa.
Grande parte desse aumento de preços se deve à pressão da agroenergia sobre os grãos. Essa pressão vai continuar e o Brasil deverá ser um dos mais favorecidos nesse novo cenário agrícola. “Essa forte demanda não é “bolha”. Simplesmente a conta não fecha”, diz Muraro, ao analisar a demanda crescente por grãos e a oferta a curto prazo.
Pessôa diz que o cenário é de estabilidade ou até de restrição na oferta de oleaginosas, mas a demanda é crescente, principalmente devido aos novos programas de bioenergia.
Pessoa diz que a novidade é “a força com que está vindo a demanda por óleo desses novos programas de biocombustíveis”. Eles estão sendo implantados por lei e, portanto, dão garantia contínua de consumo.
O programa de biodiesel da Europa está pronto. O dos EUA ganha força, e os da Malásia e da Indonésia devem consumir pelo menos 40% do óleo vegetal até 2010.
O programa do Brasil avança, já com taxas de mistura definidas, enquanto a Argentina está tributando menos o biodiesel do que o óleo normal.
Um dos poucos países que não devem desenvolver um programa de biodiesel é a China, diz Pessôa. Ao contrário, os chineses estão muito preocupados com esses programas, que são um novo concorrente na utilização de grãos. A China está mais propensa a entrar na linha do álcool do que na do biodiesel, diz o analista.