O mercado de açúcar em NY fechou basicamente inalterado nas primeiras posições, com apreciação dos preços a partir do vencimento de outubro de 2009 entre 3 e 6 dólares por tonelada. Será uma predisposição a se proteger de eventuais noticias altistas vindas da Índia que afetariam a 2009/2010? Não sei, mas é provável.
Há exatamente dois anos o mercado fechava no mesmo nível de sexta-feira, ou seja, 12,37 centavos de dólar por libra-peso. Só que em 2006 o dólar estava negociando a 2,1732 reais enquanto que hoje (PTAX de sexta) está em 1,7912. O real se valorizou quase 18% em dois anos enquanto os custos de produção sofreram um aumento em dólar acima de 25%, se aí considerado o preço dos insumos agrícolas, do frete até o porto, etc.
Inacreditável o número de bancos e instituições anteriormente tão fortes que estão sucumbindo este ano. Qual a lição que todos nós aprendemos com isso? Que por mais que alg uém tente manipular ou querer que o mercado tome uma trajetória artificial ou incompatível com os fundamentos do mercado em questão, vai pagar com a própria vida. Há apenas 3 meses uma grande instituição americana distribuía um relatório em que prognosticava que o preço do barril de petróleo iria bater entre 150 e 200 dólares num futuro bem próximo. Alguns diziam do alto de sua onipotência que petróleo a 100 dólares era coisa do passado. Toda a dinheirama que pingava diariamente nas contas dos fundos, os gestores faziam polpudas apostas no mercado de energia. Os analistas regurgitando sabedoria e empunhando seus complexos modelos matemáticos davam dezenas de explicações plausíveis sobre o porquê o petróleo faria isso ou aquilo, enquanto os investidores mais incautos compravam tudo que podiam para não perder a grande festa.
É sempre assim e acontece com todos os mercados. Por exemplo, quem freqüenta livrarias deve ter percebido a profusão de literatura sobre “como gan har dinheiro na bolsa”, “como fazer seu primeiro milhão”, “estratégias de um vencedor”, todas surgidas com a febre do mercado acionário. Eu ainda prefiro “A Bolsa e a Vida”, crônicas escritas por Carlos Drummond de Andrade. Quando a bolsa mergulhou de cabeça muita gente pensou em fazer o mesmo da sacada de seus apartamentos, com os tais livros técnicos amarrados ao pescoço. Isso sem contar a alavancagem que os neófitos adoram, incentivados a comprar o que não querem com o dinheiro que não têm. Por essas e outras é que a disciplina tem que estar presente sempre e o trader deve ser frio e desapaixonado para lidar com essas situações. Não existe um mercado que só suba nem mercado que só desça. Um velho corretor me disse uma vez que “lucro no bolso não quebra ninguém”. Por isso é bom aproveitar quando o mercado está remunerando o investimento.
Tudo bem, mas o que essa conversa tem a ver com o açúcar? As commodities de uma maneira geral sofreram a influência de um dólar ma is forte que acelerou a desvalorização das mesmas. O desinvestimento dos fundos em commodities e a performance sofrível de um grande fundo também aceleraram a queda. Por outro lado, os fundamentos do açúcar para os próximos dois anos continuam muito bem obrigado, em função de um déficit mundial, de um significante decréscimo da produção indiana, do Brasil produzindo mais etanol e num ritmo mais lento do que o ano passado, entre outras. Mas, o cenário da economia mundial é baixista e a equação de previsão de preços ganha uma dificuldade extra na resolução do problema. Os preços devem subir, mas não sabemos quando. Vamos ter que aguardar que os fundos terminem sua temporada de liquidação. Apenas nesta semana os grandes fundos liquidaram 14.000 lotes enquanto os fundos de índice liquidaram outros 7.000 lotes. Até que o mercado agüentou bem a pressão, não é não?
Existe um crescente consenso de que os preços do açúcar na bolsa de NY possam chegar até 17 centavos de dólar p or libra-peso para o próximo ano, mas ninguém contava com essa valorização abrupta da moeda americana. Assim aqueles 17 centavos de dólar por libra-peso assumidos com um real em torno de 1,65 podem virar 15,50-16,00 centavos de dólar por libra-peso com um dólar de 1,80. Pense nisso. Uma maneira de aproveitar os dois lados é tentar agregar valor na fixação em NY, por meio das opções e/ou tentar fazer NDF (contrato a termo de dólar sem entrega da moeda, apenas com liquidação financeira) ou mesmo vender calls (opções de compra) de dólar para os bancos para entrega futura. Cutuque o seu banco. Vale a pena.