Mercado

Americanos agora querem produzir álcool de cana

SÉRGIO DÁVILA

DE WASHINGTON

Os EUA vão incentivar seus agricultores a produzir etanol a partir da cana-de-açúcar, “como fazem os brasileiros”. Hoje, a maior parte desse combustível consumido no país vem do milho. A mudança foi anunciada pelo secretário norte-americano de Agricultura, Mike Johanns, durante convenção em Nashville, no último dia 2.

“Até agora, nossa cana e beterraba foram usadas para produzir açúcar, mas a tecnologia está aqui, a ciência está aqui, não há motivo para que a biomassa que resulta no etanol não possa ser de açúcar ou mesmo de beterraba. Nós não só estamos abertos a essa sugestão como a estamos incentivando. Achamos que faz parte da solução”, disse o número 1 da agricultura do governo Bush.

No seu último discurso ao Congresso, o presidente republicano lançou um programa de energia que prevê a redução de 20% do total de gasolina consumida pelo país nos próximos dez anos. Do total economizado, 75% viriam do etanol. EUA e Brasil são os maiores produtores mundiais do combustível.

Como os EUA já consomem mais etanol do que produzem, o Brasil conseguiu exportar 1,6 bilhão de litros em 2006, seis vezes o total de 2005, mesmo com uma tarifa de exportação de US$ 0,54 por galão.

Em São Paulo anteontem, Nicholas Burns, nº 3 do Departamento de Estado dos EUA, anunciou uma parceria “nova e mais forte” entre os países com o objetivo de ampliar o mercado global para o etanol.

A afirmação de Johanns, no entanto, pode acabar desacelerando a parceria, já apelidada de “diplomacia do etanol”.

“Temos de ter um programa de açúcar protegido de maneira justa”, disse o secretário. Ele respondia a um participante da convenção em Nashville, que questionara se haveria algum programa de proteção aos plantadores de cana locais que mudassem para a produção do etanol, “como no Brasil”.

“Sim, a resposta é absolutamente sim”, afirmou Johanns. “Se você vai ao Brasil, e eu estive lá em uma usina de etanol, a matéria-prima deles é a cana-de-açúcar. Ora, nós produzimos cana-de-açúcar aqui, é claro, no sul. Temos de ter um programa de proteção justo.”

O secretário citaria ainda a Lei Agrícola enviada ao Congresso por Bush nos últimos dias, que prevê US$ 1,6 bilhão para pesquisas de tecnologias para combustíveis alternativos.

As declarações foram encaradas com reserva por Marcos Jank, presidente do Icone (Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais). “O mercado da cana-de-açúcar americano já é altamente protegido”, disse ele à Folha.

Para o analista, era questão de tempo até os EUA anunciarem que explorariam a cana para fins de combustível.

“Nós sempre nos perguntamos por que eles sempre fizeram o etanol a partir de milho, se o da cana é mais eficiente.”

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi0802200727.htm