As pressões sobre o preço do petróleo se renovam. A cotação do produto voltou a subir nos últimos dias, refletindo sobretudo o temor de que, prejudicada pelo impacto dos furacões Katrina e Rita, a capacidade de refino dos EUA se revele insuficiente para atender à demanda.

A alta do petróleo já se estende por um bom tempo. Analistas e instituições, como o FMI, manifestaram várias vezes surpresa com o fato de que até o momento o crescimento da economia global se viu muito pouco afetado pelo encarecimento de um produto tão estratégico.

Alguns fatores capazes de efetivamente atenuar o impacto da alta do petróleo estão presentes. Desde fins da década de 1970, quando eclodiu a chamada segunda crise do petróleo, houve esforços importantes de economia do combustível, seja por meio de uma maior eficiência no seu consumo, seja por meio de sua substituição por outras fontes de energia.

Com isso -e a despeito de certo relaxamento nesse esforço de conservação de energia fóssil na década de 1990, quando o preço do produto chegou a níveis bastante baixos-, o consumo de petróleo por unidade do PIB mundial caiu muito, comparativamente à década de 1970.

Ainda assim, a intensidade da alta da cotação e a duração do período de petróleo “caro” justificam as dúvidas em relação à permanência do dinamismo da economia mundial. Até porque essa alta pode estancar, mas, dada a demora para a expansão da oferta, uma queda expressiva e rápida do preço do óleo não é esperada.

Ademais, o mesmo se aplica a outras commodities não-agrícolas cuja demanda tem sido pressionada pelo forte crescimento global (alavancado por EUA e China): os investimentos requeridos para expandir a oferta são vultosos e de lenta maturação.

Talvez o fator decisivo para que, até o momento, a pressão de custos advinda do encarecimento do petróleo e de outras commodities não tenha provocado pressões mais incômodas sobre a inflação e o crescimento resida na “folga” no mercado de trabalho dos EUA, criada pelo expressivo fechamento de postos de trabalho entre 2001 e 2003. Ante o desemprego mais alto, tem sido viável para as empresas acomodar pressões de custo de commodities por meio da contenção de custos salariais.

A recuperação do emprego norte-americano observada desde 2004 está, no entanto, eliminando essa folga de modo progressivo. Insinua-se, assim, a perspectiva de que, dentro de algum tempo (que especialistas estimam entre seis e 12 meses), às pressões de custos de commodities venham a se agregar pressões no custo do trabalho.

Ante um quadro desses, a reação provável do Fed (o banco central dos EUA) seria a de elevar a taxa de juros de modo mais agressivo do que tem feito, para impedir que a inflação fugisse a seu controle. Seria o sinal de encerramento do ciclo de euforia na economia internacional que vem alimentando a valorização das moedas dos países emergentes.