O combustível do futuro pode sair dos laboratórios da Universidade de Brasília, onde dois projetos de pesquisa buscam novas fontes de energia em uma planta do Cerrado e no metabolismo das cabras da raça moxotó, muito comuns no Nordeste, pródigas na produção de enzimas especiais catalisadoras de etanol. O segredo do animal está no bolo alimentar. Da palmeira — a rústica, abundante e quase desconhecida macaúba —, espera-se que se extraia de suas sementes um biodiesel de boa qualidade, com baixo custo de produção e que não polua o meio ambiente.
Os dois projetos, desenvolvidos nos institutos de Química e de Biologia da UnB, embora diferentes em termos de fontes de matéria-prima e de tipos de combustíveis, conversam por analogia e ecoam juntos aos princípios básicos da Lei da Conservação das M assas, do russo Mikhail Lomonosov, depois aprimorada por Antoine Lavoisier.
Essa lei tenta explicar, ainda no século 18, por exemplo, um dos grandes problemas com os quais o homem se defronta até os dias de hoje — a poluição ambiental, compreendendo água, solo e ar. O fato de não ser possível consumir a matéria até sua aniquilação, segundo o cientista francês, implica a geração, em todas as atividades dos seres vivos, resíduos indesejáveis a quem os eliminou, mas que podem ser reincorporados ao meio, para utilização posterior.
Eis o segredo das cabras e das macaúbas, entre outras oleaginosas estudadas por pesquisadores da UnB que vêm se especializando na perseguição de alternativas baratas e não poluentes para fazer mover veículos, campos, cidades. O projeto da macaúba, comandado pelo professor Paulo Ziani Suarez, coordenador do curso de química tecnológica, motivou a Sociedade Brasileira de Química (SBQ) e a Sociedade Americana de Química (ACS) a escolher o especialis ta como um dos três jovens cientistas brasileiros a serem homenageados na reunião anual da SBQ.
Eficiência
Desde 2002, Suarez vem se dedicando ao estudo de biocombustíveis derivados de oleaginosas do Cerrado, como o pião-manso. Desta vez, o professor resolveu investir na macaúba por ser uma poderosa fonte de óleo e permitir um plantio consorciado com a agropecuária. “Ela dá 5 mil litros de óleo em um hectare, sem tirar o gado da terra”, explica. Enquanto isso, extraem-se 600l de óleo, no mesmo espaço, com a soja.