Parte da produção de cana-de-açúcar que poderia ter sido destinada à fabricação de açúcar seguiu para a de álcool. O resultado foi a alta generalizada nos preços da mercadoria. O produto continua sendo o que proporciona maiores lucros aos empresários do setor. No entanto, é o álcool que tem mais chances de alcançar novos mercados no exterior. Isso graças, principalmente, aos elevados preços do petróleo e, por aqui, ao sucesso dos carros bicombustíveis, segundo a analista econômica Giovana Araújo, da Consultoria Datagro, que compila dados do setor sucro-alcooleiro.
Em razão de os usineiros darem prioridade à produção do álcool, o açúcar refinado registrou alta de 5,25% no mercado brasileiro. Já o cristal teve aumentou 2,03% desde o início de dezembro de 2005, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Outro fator que determinou o aumento de preço do açúcar no mercado interno é que o valor do produto também está atrelado às cotações internacionais, segundo Giovana. Além disso, o País passa pelo período de entressafra. “O resultado é uma safra justa. A trajetória de alta de preços não deve se dissipar facilmente, mesmo com o início da nova safra em abril”, diz a analista.
Apesar de afastar a possibilidade de faltar açúcar no mercado nacional, Giovana sinaliza que, ao contrário do álcool, que tem o preço definido pela oferta nas usinas, o açúcar acompanha os valores do mercado internacional, por ser uma commodity com peso nas exportações brasileiras.
Efeitos – A indústria também está sentindo os efeitos da alta no preço do açúcar, principalmente os fabricantes de doces e balas. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), Getúlio Ursulino Netto, se reúne hoje com empresários do setor e o presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Eduardo Pereira de Carvalho, na tentativa de um acordo para o segmento.
Segundo a pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP), Heloísa Burnquist, o consumo interno anual de açúcar no Brasil tem se mantido na média de 55 quilos por pessoa. “O uso de mais de 50% da moagem de cana para a produção de álcool contribuiu para o desequilíbrio no preço. Talvez haja uma leve redução na cotação no começo da safra, em abril”, acrescenta Heloísa.
Moagem – A região Centro-Sul, responsável por 85% da produção de cana-de-açúcar no País, moeu 336 milhões de toneladas, volume 2,6% abaixo da previsão inicial da Unica, de 345 milhões de toneladas na safra 05/06, em abril de 2005. “Em comparação com os 328,9 milhões de toneladas do período 04/05, houve incremento de 2,1%. E o nível de açúcar total recuperável (ATR), que mede o volume de matéria-prima utilizada para transformação em açúcar e em álcool, teve um aumento de 2,6%”, diz o presidente da Unica, Eduardo Pereira de Carvalho.
Ele afirma que a safra 05/06 foi basicamente alcooleira, com a produção de 14,4 bilhões de litros no Centro-Sul, ou seja, 5,9% acima dos 13,593 bilhões de litros da safra anterior. A produção de açúcar somou 22,05 milhões de toneladas, 0,3% abaixo dos 22,122 milhões da safra 04/05.
Quanto às exportações da região, conta o presidente da Unica, as de álcool devem girar em torno de 1,850 bilhão de litros, 5,2% abaixo de 1,952 bilhão de litros do mesmo período anterior. “Já os embarques de açúcar devem totalizar 14,5 milhões de toneladas, valor próximo aos 14,25 milhões de toneladas registrados na última safra”, revela.
Novas usinas – Segundo Carvalho, na próxima safra, 19 novas usinas devem entrar em operação no País. “Essas novas unidades devem ajudar com um acréscimo na produção nacional de 15 milhões de toneladas de cana”, afirma.
A expectativa é de que sejam moídas aproximadamente 410 milhões de toneladas de cana-de-açúcar para a produção de açúcar e álcool.