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Alta do petróleo e mudanças climáticas mantêm energia nuclear na agenda global

As pressões energéticas num momento em que o preço do petróleo não pára de subir têm levado algumas nações a rever a posição sobre a energia nuclear. Os Estados Unidos já possuem 104 reatores nucleares em operação e querem aumentar o potencial. A França tem quase 80% de matriz energética baseada nesta fonte. A China planeja uma capacidade instalada de 40 mil megawatts (MW) até 2020. E a Alemanha cogita a revogação do acordo político que dará um fim as nucleares em 2021.

No Brasil, os investimentos nesta opção energética estão previstos para serem retomados ainda neste ano. Nesta segunda-feira, o ministro de energia, Edison Lobão, anunciou que as obras de Angra 3, no Rio de Janeiro, começariam em 1º de setembro. Para concretizar os planos, o governo aguarda agora a licença do Ibama, que segundo Lobão, será liberada entre 10 a 15 dias.

O ministro afirmou que Angra 3 será apenas a primeira de cinco novas usinas nucleares planejadas pelo governo, mas a única já com local definido. Lobão disse que o objetivo do governo é construir uma usina nuclear por ano para alcançar uma capacidade de 60 mil MW em 50 anos. A demanda por investimentos para a construção de Angra 3, que terá uma potência instalada de 1.350 MW, será de R$ 7,3 bilhões e a previsão é que esteja em operação em 2014.

Ambientalistas e organizações não governamentais como o Greenpeace deixam claro a posição contrária a tal fonte energética. “A energia nuclear é cara e perigosa porque é obtida a partir de reatores que produzem resíduos letais”, disse o coordenador da Campanha Clima do Greenpeace Brasil, Luis Piva, sobre os argumentos de alguns presidentes a favor de usinas nucleares durante a reunião do G8, no Japão. “O Greenpeace defende uma revolução energética baseada em energias renováveis e eficiência energética para combater as mudanças climáticas e garantir a segurança energética.”

Fatos que ocorreram nesta semana como os testes com mísseis nucleares promovidos pelo Irã e os vazamentos em usinas na França são algumas evidências dos riscos que esta fonte energética traz. O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, diz que o país pretende diversificar a matriz energética e argumenta que o uso da tecnologia nuclear para fins pacíficos é um direito do povo iraniano.

Entre pontos a favor e contra, o físico Anselmo Salles Paschoa, que possui mais de 30 anos de experiência com energia nuclear e foi consultor, em diversas ocasiões, da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), é enfático em afirmar que a discussão nuclear é mal esclarecida. “Há muita paixão e pouca informação”, diz em entrevista para a CarbonoBrasil.

Paschoa defende que países do porte do Brasil, como a China e a Índia, devem explorar todo o potencial energético, diversificando o uso das fontes e não excluindo nenhuma. O percentual na matriz energética brasileira será pouco alterado com Angra 3, podendo passar dos cerca de 2,5% a 3% atuais para 4%, explica Paschoa. “No Nordeste é inevitável o uso de energia solar e eólica. É preciso usar o potencial energético de maneira inteligente”, afirma.

O país tem competência técnica para utilizar a energia nuclear, segundo Paschoa, com tecnologia adequada para construir e gerenciar repositórios definitivos para resíduos radioativos. “O Brasil tem muitas possibilidades. A França escolheu o armazenamento geológico, a Alemanha, o depósito em minas de sal. Temos muitos estudos geológicos que mostram onde poderia ser depositado no nosso território”, afirma o físico, que hoje é consultor especial do Laboratório da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e membro da Comissão Nuclear da Sociedade Brasileira de Física.

“Todas as energias têm seus prós e contras, mas enfatizo que um país do porte do Brasil não pode se dar o luxo de não utilizar diferentes potenciais”, conclui.