Cuba e Venezuela avançam numa aliança estratégica que tem cada vez mais zeros. Uma reunião de cúpula com a participação de integrantes dos dois governos, concluída na quarta-feira em Havana, firmou para 2007 nada menos do que 350 convênios entre Havana e Caracas, com investimentos que totalizam US$1,5 bilhão. Foi anunciado, na conclusão da reunião de Havana, um acordo para a construção de 11 usinas de produção de etanol na Venezuela. Cuba cederia tecnologia e matéria-prima, já que é rica em cana-de-açúcar, e a Venezuela afirmou que deseja desenvolver sua produção de etanol para utilizá-lo na fabricação de uma gasolina menos poluente.
No dia anterior, o líder convalescente de Cuba, Fidel Castro, e Hugo Chávez criticaram duramente a utilização do etanol como alternativa ao petróleo, no programa de rádio diário do presidente da Venezuela — em que os dois líderes conversaram ao vivo por meia hora.
A estreita cooperação entre os dois países, que começou em 2000, só aumenta de tamanho. Naquele ano, foram aprovados 31 projetos num total de US$28,5 milhões. Sete anos depois, a cifra é 60 vezes maior. Quanto ao comércio bilateral, passou de US$300 milhões no fim dos anos 90 para US$2,6 bilhões no ano passado — superando em muitos as expectativas de que seria de US$720 milhões.
Cuba recebe diariamente 98 mil barris de petróleo da Venezuela a preços preferenciais, enquanto mais de 30 mil médicos e profissionais cubanos viajam para participar dos programas sociais da revolução bolivariana de Chávez e dar aulas em universidades venezuelanas. Milhares de estudantes daquele país também vão para Cuba participar de intercâmbios estudantis anualmente. Apesar de a saúde e o petróleo serem os pontos-chaves da cooperação Havana-Caracas, agora ela cresce também em outros setores.
Pela Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas) -— idealizada por Fidel e Chávez para fazer frente à Alca (Área de Livre Comércio das Américas, idealizada pelos EUA) — já foram criaram nove empresas mistas nos setores de construção civil e naval, transportes, cultura e sistema financeiro. Até 2008, espera-se ainda convênios na área de tecnologia, ciência, telecomunicações e previdência social.
— E cada vez mais integraremos outros setores estratégicos — afirmou Marta Lomas, ministra de Investimento Estrangeiro e Colaboração Econômica de Cuba.
A ministra lembra que o comércio bilateral entre Havana e Caracas, assim como os investimentos mútuos, também cresce em grandes proporções: passou de US$902 milhões em 2000 para US$2,6 bilhões em 2006.
Nem a doença de Fidel atrapalhou
A aproximação dos dois países não foi prejudicada nem pelo afastamento de Fidel da Presidência cubana, em agosto do ano passado. Chávez, que tem no líder cubano um ídolo declarado, já visitou a ilha várias vezes e tornou-se uma espécie de porta-voz da saúde de Fidel, informando constantemente a mídia sobre sua recuperação. Na conversa de terça-feira no programa de rádio de Chávez, Fidel, de 80 anos, disse que está “com mais energia e mais forte” — mesmo que os detalhes de sua recuperação continuem mantidos como segredo de Estado pelo governo cubano.
A cúpula de Havana, designada VII Sessão da Comissão Mista Intergovernamental, foi conduzida por Raúl Castro, que está no lugar do irmão desde a sua doença, e pelo ministro venezuelano da Energia e do Petróleo, braço direito de Chávez, Rafael Ramírez — que teve um encontro a sós com Fidel, na terça-feira. Assim como o presidente da Venezuela, seu ministro garantiu que é apenas uma questão de tempo o retorno de Fidel à liderança de Cuba. Ele já teria, por exemplo, acompanhado de perto todos os acordos firmados entre os dois países.