Encontro realizado em Fortaleza acena para recursos em infra-estrutura de US$ 700 milhões. O saldo de dois dias do Encontro Econômico Brasil-Alemanha, realizado em Fortaleza, acena para investimento superior a US$ 1 bilhão. Fazem parte das propostas concretas anunciadas nas reuniões a criação de projetos em energias alternativas e de pequenas centrais elétricas – com recursos entre US$ 70 milhões e US$ 100 milhões -, além instalações de terminais portuários, no valor de US$ 400 milhões, conforme afirmou Ingo Plöger, diretor para Investimentos da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Plöger também confirmou investimentos alemães de US$ 700 milhões em infra-estrutura no País.
“Foi um evento de qualidade, com muitas sugestões na área de química, tecnologia, de mecanismos de desenvolvimento limpo, e realizado em clima de otimismo”, disse. Alguns projetos tem chances de deslanchar entre 1 e 4 anos, segundo o diretor da Apex. “A América do Sul saiu um pouco do radar dos investidores alemães e creio que o Brasil está voltando”, afirmou.
No agronegócio, além dos testes de biodiesel na frota de 12 ônibus em Fortaleza, e do etanol, na Alemanha, ficou acertada a realização da Biofach (feira mundial de produtos orgânicos) em novembro, no Rio de Janeiro, que vai promover a produção de pequenos produtores brasileiros.
O vice-presidente executivo da Associação Brasileira de Infra-Estrutura de Base, Rolf Lima Terra, apontou que uma nova agenda na área financeira prevê a criação de fundos de investimentos alternativos aos oferecidos pelo Banco nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A intenção seria atrair pessoas físicas e jurídicas do mundo inteiro a participar com cotas nos projetos brasileiros. A iniciativa dos empresários brasileiros recebeu apoio e um grupo de trabalho envolvendo brasileiros e alemães foi criado especificamente para estudar o assunto. “O Brasil tem hoje um grande problema no setor de infra-estrutura e precisamos fazer com que alguns projetos se viabilizem”, disse o presidente da Siemens do Brasil, Adilson Primo. Pelas contas do empresário, que participa da comissão de infra-estrutura, encarregada de atrair investimentos alemães em energia, telecomunicações e logística, o País precisaria de US$ 20 bilhões por ano. “É uma quantia grande e sem uma Parceria Público Privada (PPP), o governo não teria recursos para aportar sozinho. As PPP precisam ser regulamentadas o mais rápido possível”.
De acordo com o empresário, o encontro abriu a possibilidade de investimentos em portos, outro grande gargalo brasileiro. Na avaliação do presidente da Siemens do Brasil, um projeto de grande porte precisa de pelo menos um ano, além do tempo de construção. “Os alemães olham o Brasil como um país de grande potencial, com uma lista enorme de projetos, mas também observam outros países do mundo”, afirmou. “Precisamos ser realmente ágeis, para sair na frente”, completou Primo.
O presidente da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag) e presidente do lado brasileiro da parte empresarial da Comissão Brasil Alemanha, Carlo Lovatelli, disse que existe muita vontade de acertar acordo entre os dois países. “O foco tem se firmado em bioenergia e projetos de PPP, relativamente fáceis de implementar”, afirmou. O empresário citou o movimento orquestrado em torno do projeto-piloto de biodiesel, em Fortaleza, e do etanol para a frota da Alemanha. Observou ainda que a GTZ , agência de fomento, vem viabilizando um projeto de café, no Espírito Santo, em fase de implementação. Além disso, analisa outro envolvendo exportação de perecíveis, a partir do Nordeste direto para a Europa, que viabilizaria os embarques de produtos orgânicos, com vida curta.
Lovatelli disse que ficou claro o interesse dos investidores alemães. “Sabemos, no entanto, que tem fatores que fogem a nossa alçada, como as grandes negociações internacionais. A Alemanha está dentro da comunidade européia, tem uma presença líder forte, mas nem tudo é fácil”, assinalou.
De acordo com o presidente da Abag, a comissão do agronegócio vai se reunir em novembro, no Rio. O grande encontro Brasil-Alemanha vai ser realizado em 2006, em Berlin, na época da final da Copa do Mundo de futebol e, no ano seguinte, em Blumenau (SC).
O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, Rolf-Dieter Acker, afirmou não se sentir confortável para apontar números de investimentos, mas confirmou que os resultados das reuniões em Fortaleza foram bastante positivos. “Trata-se de uma feira de idéias, que reuniu um número recorde de empresários, e uma plataforma de contato”, disse o presidente, ao observar que a edição deste ano trouxe novos temas, que certamente serão amadurecidos.
kicker: Para o presidente da Siemens do Brasil, Adilson Primo, o País precisaria de pelo menos US$ 20 bilhões por ano