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Alemanha investe na energia eólica para substituir a nuclear

Segmento responde atualmente por 4,7% da matriz elétrica do país. A Alemanha fez sua aposta na energia eólica, gerada a partir dos ventos, para substituir os combustíveis fósseis e a energia nuclear. Em 2002, a capacidade de geração eólica do país aumentou 22% e hoje há 13,8 mil cataventos instalados. Nenhum outro país tem tanta energia à base do vento: são atualmente 12 mil megawatts (MW) – volume suficiente para abastecer uma cidade do porte de Berlim – de um total de 30 mil MW em todo o mundo. No Brasil, como comparação, são gerados apenas 22 MW de energia eólica, ou 0,03% da matriz elétrica. Na Alemanha, o segmento responde por 4,7% da matriz elétrica e, segundo o ministro do Meio Ambiente, Jürgen Trittin, a participação poderá chegar a 25% até 2030.

O investimento na geração eólica tem uma razão econômica importante: os custos do kilowatt/hora da energia dos ventos correspondem à metade dos custos da energia das usinas de carvão mineral, por exemplo. Além disso, seu impacto ambiental é muito baixo.

Por isso mesmo, o segmento reveste-se de importância cada vez maior no país, tendo faturado € 3,5 bilhões em 2002. Atualmente, garante 40 mil empregos. “Vagas criadas não surgiram em poucas empresas de grande porte, mas em centenas de pequenas firmas, ou na forma de microempresas de uma única pessoa”, diz Norbert Giese, presidente do segmento de energia eólica na Federação Alemã das Indústrias de Construção de Máquinas e Instalações Industriais.

Incentivo legal

A energia do vento tem certa tradição na Alemanha, mas só tomou impulso nos últimos anos, graças à Lei de Incentivo às Energias de Fontes Renováveis, promulgada pelo governo de coalizão entre social-democratas e verdes. Os cataventos instalados em terra (onshore) tornam-se cada vez maiores e mais eficientes. Os mais modernos, cujas hélices têm diâmetro de 70 a 90 metros, produzem até 3,5 milhões de quilowatts/hora por ano – o suficiente para abastecer mil famílias.

No entanto, há grandes diferenças entre as regiões norte e o sul do país no que diz respeito ao aproveitamento dos ventos. A maior concentração é no litoral. “No estado de Schleswig-Holstein, 28,75% da eletricidade provém de cataventos”, diz Peter Molly, presidente da Federação Alemã das Indústrias de Energia Eólica. O segmento de energia eólica tem como principais clientes as siderúrgicas e a indústria automobilística.

Para ampliar a capacidade de geração, o futuro parece estar no mar, onde o vento é mais constante e seria possível construir instalações maiores. No entanto, o procedimento é complicado e demorado na Alemanha, devido à exigência de detalhados estudos de impacto ambiental. Apenas dois parques fora do Mar do Norte foram aprovados até agora, o que Norbert Giese considera muito pouco.

Parques no mar

Pelas projeções feitas no país, para se alcançar a participação de 25% dos ventos na matriz elétrica, os parques eólicos localizados no mar seriam responsáveis por 15% da produção e os restantes 10% por cataventos instalados em terra. As bases legais para o desenvolvimento da energia eólica em áreas marítimas foram estabelecidas na nova lei de proteção à natureza, que neste ano foi submetida às comissões do Parlamento e do Conselho Federal.

A nova lei estabelece diretrizes para a exploração de áreas cultiváveis, florestas e a pesca e apóia, entre outros, a biodiversidade e a reestruturação ecológica da agricultura. A lei define ainda as faixas costeiras destinadas à instalação de parques eólicos, por não estarem sujeitas à exploração militar e ao tráfego marítimo. A construção de parques eólicos já despertou o interesse de 66 investidores.