Demanda forte, expectativa de um equilíbrio apertado entre consumo e oferta na entressafra, exportações consistentes e pressão dos derivados de petróleo formam o cenário adequado para uma recuperação dos preços do álcool. E é o que ocorre no momento.
Só em setembro, os preços médios superaram em 11% os de agosto, conforme acompanhamento diário do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). Do início de setembro a ontem, a alta é de 24%. A pesquisa de preços desta semana do Cepea apurou que os valores médios na usina subiram a R$ 0,9389 para o anidro e R$ 0,8208 para o hidratado.
Volatilidade
“Esse mercado é muito volátil. Tem hora em que o produtor perde e hora em que ganha”, segundo Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo). Segundo ele, quando há expectativa de excedente de oferta, os produtores “correm para vender” e derrubam ainda mais os preços. Quando há expectativa de mercado enxuto, o produtor se retrai, os preços sobem e ele, produtor, é que passa a ter a força no mercado.
Padua diz que essa volatilidade vem de imperfeições do próprio mercado, que é todo “spot” (só há compras no mercado físico e pelo preço do dia).
Para diminuir essa volatilidade, o setor deveria desenvolver mais as negociações nos mercados futuro e de médio e longo prazos.
O mercado realmente passa por um momento de alta, mas não há nada de atípico nisso, diz Mirian Bacchi, professora da Esalq e pesquisadora do Cepea. Os preços estão em elevação e não vai haver uma volta para o R$ 0,50 ocorrido na safra 2003/4. O patamar atual é o segundo menor, em termos reais, nas últimas seis safras, afirma Bacchi.
De maio a setembro deste mês, os preços médios reais estiveram em R$ 0,74 por litro, acima do R$ 0,70 do mesmo período de 2004, mas 25% inferior ao R$ 0,99 de 2000/1. Esses valores são do produto tipo anidro, na usina, livre de impostos. O IGP-M foi o índice utilizado para a correção.
A forte elevação nos preços do álcool nas usinas ocorre exatamente no mês em que as vendas de carros bicombustíveis -que podem usar tanto gasolina como álcool- ultrapassaram as dos veículos movidos apenas a gasolina no acumulado do ano .
O álcool vale atualmente 50% do valor da gasolina. Até uma margem de 70%, ainda é mais vantajosa a utilização desse produto do que o derivado de petróleo nos veículos.