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Álcool pode elevar gasolina nos EUA, dizem petroleiras

Planos do governo fazem setor rever expansão de refino e exploração em momento de escassez e alta de preços, dizem petroleiras

Diante de protestos de consumidores com os altos preços de combustíveis nos EUA, executivos do setor petroleiro dizem que parte da culpa vem da incerteza gerada pelos esforços do governo Bush para elevar o suprimento de biocombustíveis como o álcool, no futuro próximo.

Em janeiro, o presidente Bush pediu uma elevação acentuada no uso de biocombustíveis bem como avanços na eficiência de uso de combustível nos automóveis, a fim de reduzir o uso de gasolina no país em 20% em dez anos. O Congresso já debate projetos de lei que promoveriam um aumento de quase 500% no uso do etanol.

Isso forçou muitas empresas petroleiras a reconsiderar ou reduzir a escala de seus planos de construção de capacidade de refino adicional.

Em audiências promovidas pelo Congresso no ano passado, executivos do setor petroleiro delinearam planos de expansão da produção de combustível, por meio da ampliação de refinarias existentes. Os planos elevariam em 1,6 milhão a 1,8 milhão de barris diários a capacidade atual, em prazo de cinco anos, provendo expansão de 10% na capacidade total, de acordo com a Associação Nacional de Petroquímica e Refinarias dos EUA.

Mas esses planos foram reduzidos em mais de 1 milhão de barris ao dia, de lá para cá, de acordo com a Administração de Informação sobre Energia, agência do governo federal.

“Se a política nacional do país é promover ampliação dramática do setor de biocombustíveis, isso representa desestímulo para aqueles que tomam decisões de investimento quanto à expansão da capacidade de refino e produção de derivados petroleiros”, disse John Hofmeister, presidente da Shell Oil. “Isso terá impacto sobre todo o setor.”

As preocupações foram ecoadas em relatório recente da Barclays Capital, segundo o qual a incerteza quanto ao crescimento do etanol “pouco fará para acelerar o investimento desesperadamente necessário nas complexas unidades de refino dos Estados Unidos”.

“De fato, é provável que isso desestimule e retarde investimentos adicionais, ou mesmo que resulte em abandono total de muitos dos planos de investimento em refinarias”, diz.

Mesmo assim, o atual custo da gasolina -que em termos reais está se aproximando do velho pico de US$ 0,37 por litro, de 1981 e equivalente a US$ 0,87, hoje, considerada a inflação do período- renovou as suspeitas de que o setor petroleiro está em busca de maneiras de manter os lucros altos, retardando investimentos muito necessários.

O senador Charles Schumer, democrata de Nova York, deu início a audiências no Senado anteontem com o tema: “A concentração de mercado no setor petroleiro americano está prejudicando os consumidores?”.

E a Câmara dos Deputados votou anteontem, por margem estreita, punir companhias, operadores ou varejistas de petróleo que estejam cobrando preços “injustificavelmente excessivos” pela gasolina e outros combustíveis. O presidente Bush provavelmente vetará a medida porque a Casa Branca alegou que ela equivaleria a impor controle de preços. Os especialistas apontam para muitos motivos de curto prazo que explicam a escassez de gasolina nos Estados Unidos, e a conseqüente alta de preços.

Muitas empresas petroleiras estão conduzindo trabalhos de manutenção em suas refinarias, novas regras federais tornam os combustíveis mais limpos, mas também mais dispendiosos, e uma seqüência de atrasos, incêndios e acidentes no setor reduziu o suprimento no momento em que os motoristas do país começam a pegar a estrada para as férias de verão. Muitos analistas predizem que os preços continuarão subindo, mas cairão com o passar do verão.

As petroleiras afirmam que sua visão quanto às perspectivas de longo prazo dos combustíveis reflete raciocínio econômico básico. Devido aos enormes investimentos para a expansão de refinarias, dizem não ter outra escolha a não ser reestudar seus planos, tendo em vista os pedidos por um aumento no uso dos biocombustíveis.