O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse ontem que a queda no preço do álcool, já verificada nas usinas, ainda não chegou ao consumidor porque provavelmente as distribuidoras do combustível ainda dispõem de estoques adquiridos a preços praticados antes do acordo entre governo e usineiros. É preciso consumir esse estoque para que o reflexo do preço na usina surja na bomba, disse Rodrigues, para quem isso deve acontecer ainda esta semana. As informações que temos são de que, nas usinas de açúcar e de álcool, o acordo já foi implementado. Os preços já caíram abaixo do nível que havíamos combinado na semana passada, disse o ministro, referindo-se à fixação do preço do litro do álcool anidro (adicionado à gasolina) em R$ 1,05 na usina, por acordo entre governo e usineiros.
De acordo com analistas que acompanham o setor, o repasse da redução (ou aumento) de preços nas usinas costuma demorar de duas a três semanas para chegar aos postos. A alta nos postos na semana passada reflete os preços praticados nas usinas duas ou três semanas antes, quando a tendência ainda era de alta, diz Júlio Maria Borges, da consultoria Job Economia.
Para ele, o acordo não terá maiores impactos no mercado, pois os dois tipos de álcool – anidro e hidratado (usado nos modelos flex) – já estavam sendo vendidos a um preço muito perto do teto de R$ 1,05. O acordo apenas antecipou o fim do viés de alta dos preços nas usinas, diz Borges. O preço do álcool já havia chegado próximo do pico e ia se ajustar naturalmente. O limite do mercado, explica Borges, é dado pela competição criada pelos carros bicombustíveis. A alta excessiva do álcool provocaria uma queda de demanda – já que o consumidor tem a opção de usar a gasolina -, o que, por sua vez, levaria a uma queda de preços. Com a confusão provocada pelo acordo perdemos a chance de testar a eficácia da nova tecnologia para a auto-regulamentação do mercado. Crítica da intervenção do governo no mercado, a professora Heloisa Lee Burnquist, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura (Esalq) da USP, afirma que a queda de preços nas usinas ocorrida na semana passada reflete menos o acordo e mais uma acomodação do mercado às medidas contra sonegação introduzidas no início do ano. São elas: a adição de um corante ao álcool anidro e, no caso de São Paulo, a isenção do ICMS para o anidro apenas mediante comprovação da compra de um volume três vezes maior de gasolina. As medidas coibiram a prática de batizar o anidro com água comum para vendê-lo como hidratado.
Como essas medidas entraram em vigor em janeiro, acreditase que muitos distribuidores compraram um volume de anidro acima do normal em dezembro, contribuindo para uma alta artificial de preços.