Desprezado durante anos, o álcool combustível ganhou status de “ouro branco”. Ao lado do açúcar, transformou-se numa das maiores apostas econômicas do País e tem atraído investimentos de peso, provocando uma revolução no setor sucroalcooleiro. A demanda cada vez mais crescente tem impulsionado o preço dos dois produtos e criado boas oportunidades de negócios. E, apesar dos elevados investimentos, a oferta está justa. Os produtores terão de fazer algumas opções para garantir o abastecimento interno: exportar açúcar ou álcool
Só neste ano 19 usinas – que somam investimentos de cerca de US$ 700 milhões – entrarão em funcionamento, segundo a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica). A perspectiva é que outras 89 unidades com capacidade para moer 120 milhões de toneladas de cana-de-açúcar estejam em operação entre 2 e 8 anos
O que somaria investimentos de cerca de US$ 8,4 bilhões, considerando que são investidos US$ 70 para cada tonelada de cana.
Na safra deste ano, as usinas ainda não estarão a plena carga, mas vão acrescentar cerca de 10 milhões de toneladas de cana-de-açúcar ao mercado – suficiente para produzir 800 milhões de litros de álcool. O potencial total só será alcançado nos próximos anos, afirma o diretor da Unica, Antônio de Pádua.
Mas será preciso mais oferta para atender à demanda do mercado. Segundo o executivo, a venda de carros bicombustível vai elevar o consumo de álcool em 1 bilhão de litros em 2006. Mas ele afirma que o abastecimento está garantido. Além da melhoria da eficiência industrial, há um aumento da área a ser colhida. Ou seja, as usinas já existentes também vão expandir a produção.
Apesar disso, Pádua afirma que há uma discussão no setor sobre as estratégias a serem adotadas neste ano. Com o preço do açúcar nos melhores níveis nos últimos 24 anos, as usinas terão de decidir se aumentam a produção de açúcar para exportar mais e diminuem a exportação de álcool para atender à demanda interna, ou mantêm o mix atual. O problema é que a redução das exportações de álcool vai contra a política de tornar o combustível popular no exterior.
A euforia do setor sucroalcooleiro decorre de vários fatores. Entre elas está o sucesso dos carros bicombustível e a possibilidade de o combustível ser adotado no mundo diante das preocupações ambientais e das incertezas em relação ao petróleo. Para completar o cenário otimista, o País espera conseguir alcançar o tão protegido mercado da União Européia com o açúcar brasileiro.
Expansão – Das usinas que entrarão em funcionamento neste ano, 14 são novas e 5 são unidades antigas reativadas. A maioria (11) está localizada em São Paulo. Uma delas é do Grupo Virálcool, em Castilho, interior do Estado. Segundo Antonio Toniello Filho, diretor da empresa, que já tem duas usinas, a expectativa é que a unidade comece a funcionar em junho e faça a moagem de 600 mil toneladas de cana. No início, a matéria-prima será destinada à produção só de álcool, cerca de 55 milhões de litros.
Até 2010, a usina deverá moer até 2 milhões de toneladas de cana
A produção de açúcar deve começar em 2008. O grupo estuda a possibilidade de construir a quarta unidade em Mato Grosso. Mas ainda não há nada concreto, afirma Toniello.
Outra empresa que também inaugura usina neste ano e tem planos para nova unidade é a Clealco. Depois do início de operação da filial em Queiroz, a companhia pretende dar andamento ao projeto de nova usina em Rinópolis, também no interior de São Paulo, afirma o diretor-superintendente, José Carlos Escobar. Segundo ele, a usina está em fase de licenciamento ambiental e o plano é moer 2 milhões de toneladas de cana.
Cerradinho também vai inaugurar sua usina este ano, com capacidade para 1,8 milhão de toneladas de cana. Segundo o diretor-financeiro da companhia, José Fernandes, com a nova unidade, localizada em Potirendaba, em São Paulo, o grupo vai ganhar escala e custo fixo. A empresa estuda a possibilidade de construir nova usina no interior paulista e na Região Centro-Oeste.