Mercado

Álcool fica 8% mais caro em 15 dias em SP

O preço do álcool para o consumidor final na cidade de São Paulo subiu 8%, para R$ 1,529, na média, entre 22 de dezembro e ontem, segundo levantamento feito pela Folha em 45 postos.

A maior elevação -22,23%- foi registrada em um posto localizado na zona oeste. No período da pesquisa, o preço do álcool nesse local passou de R$ 1,390 para R$ 1,699. Ainda de acordo com o levantamento, o preço mais baixo foi registrado em um posto na zona sul. Na última sexta-feira, o combustível custava R$ 1,349.

“A alta nesta época do ano não surpreende. O que surpreende é a sua magnitude”, afirmou Hélio Fiorin, diretor do Sincopetro (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de São Paulo). “Isso é culpa da ganância dos usineiros”, argumentou.

Para Fernando Moreira Ribeiro, secretário da Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo), o que pressiona o álcool é o aumento da demanda -impulsionada pelos carros bicombustíveis. “A indústria de álcool não é a vilã de nada”, diz. “É uma conjuntura de mercado. O álcool é um produto agrícola, logo oscila. Em 2004, quando o preço despencou, ninguém falou nada.”

A opinião de que é o aumento do consumo de álcool que explica a recente escalada dos preços também é endossada por Heloísa Burnquist, do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da USP. “A produção de cana foi boa, e a safra foi planejada para ser alcooleira. No centro-sul, mais de 50% da cana foi moída para produzir álcool. O que vemos é que realmente houve uma expansão do consumo acima do esperado”, avaliou.

Estimativas do Sincopetro apontam que o álcool deverá encerrar a próxima semana com um preço médio entre R$ 1,70 e R$ 1,80. O preço do litro da gasolina, que, segundo o levantamento da Folha, teve alta discreta -0,38%- entre 22 de dezembro e ontem, deverá alcançar um valor médio entre R$ 2,40 e R$ 2,50, projeta o sindicato. Mantidas essas projeções, avalia Fiorin, “o preço médio do álcool vai superar o limite do que é vantajoso para o consumidor”. Especialistas dizem que o preço do álcool deve ficar em no máximo 70% do da gasolina para ser vantajosa sua utilização nos carros bicombustíveis.

Temendo que a alta do álcool possa vir a afastar os clientes, alguns proprietários dos postos ouvidos pela pesquisa da Folha disseram que a partir de hoje pretendem reduzir os preços que já estiverem próximos de R$ 1,70.

Impacto das fraudes

Na avaliação de Rafael Schechtman, analista do Cbie (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura), o aumento da fiscalização sobre postos que fraudam combustível pode também acabar por elevar o preço do álcool.

Conhecido como “álcool molhado”, um tipo de fraude comum é a adição de água ao álcool anidro (usado na mistura da gasolina). Com esse processo ilegal, o álcool anidro é transformado em hidratado e é usado diretamente em carros com motor a álcool.

Desde ontem, produtores e importadores só poderão comercializar álcool anidro com corante laranja para evitar adulteração.

Dentro de alguns dias, informa a ANP (Agência Nacional do Petróleo), o consumidor poderá observar se o álcool hidratado apresenta cor laranja -sinal de que o produto é irregular.

“Com essa nova regulamentação, vai aumentar a entrada do álcool hidratado -mais caro- no mercado. Isso vai elevar mais um pouco os preços”, avaliou Schechtman.

Para o diretor do Sincopetro, as distribuidoras “desonestas” que usam álcool anidro para a fabricação do “álcool molhado” vão ter uma diminuição dos estoques nos próximos dias. “Esses postos que vendem esse álcool desonesto muito barato vão ter que subir os preços muito em breve por causa dessa medida antifraude da ANP”, diz Fiorin.