Mercado

Álcool e açúcar derrubam preço da terra

A queda no preço do açúcar e do álcool, nesta safra, puxou para baixo a cotação da terra na região de Rio Preto. A desvalorização de área cultivadas com cana varia de 20% a 35% e a expectativa é, na melhor das hipóteses, de estabilidade. O produtor rural e consultor agropecuário José Oscar Cícero afirma que, desde o início do ano, o valor da terra na região registra queda no preço tanto da terra nua quanto da terra com culturas. O motivo da baixa nos preços foi a desvalorização no valor da tonelada da cana, que deve abrir a safra com o quilo dos Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) na faixa de R$ 0,14 a R$ 0,16 (em 2003, este valor estava em R$ 0,2688). Segundo Oscar Cícero, o alqueire de terra, que no ano passado era vendido na faixa de R$ 30 mil, pode ser adquirido atualmente por R$ 20 mil.

José Roberto dos Santos, o Beto, da Rural Imóveis, afirma que existem ofertas de imóveis rurais em diversos valores em áreas destinadas à produção de cana. “Tem até por R$ 20 mil. A usina parou de arrendar. Muita gente estava comprando área para arrendar uma parte para a usina”, explica. O corretor e proprietário da Imobiliária Rossafa, Osmar Rossafa, afirmou que o preço do alqueire da terra com cana-de-açúcar, que em 2003 custava na região de Rio Preto na faixa de R$ 25 a 30 mil o alqueire, no momento pode ser comprada entre R$ 18 e 22 mil. A corretora e sócia proprietária da Central de Negócios, Lúcia Helena Oliveira Clara, revela que o alqueire de terra de qualidade, próxima à usina, oscilou recentemente entre R$ 35 a 39 mil e em regiões não tão próximas da unidade de moagem de cana era encontrada entre R$ 28 e R$ 30 mil. Depois da redução no preço do álcool e do açúcar, o alqueire de terra varia entre R$ 25 a 28 mil. Segundo Lúcia Helena, muitos produtores estão pedindo valores acima do que está sendo praticado. “As pessoas precisam tomar consciência de que o preço da terra caiu e que a realidade é outra”, diz.

Outras culturas

Com exceção das áreas cultivadas com seringueiras para a produção de látex, glebas destinadas à pastagem e à citricultura também sofreram perda no preço. Oscar Cícero afirma que os contratos de venda de laranja entre as indústrias e os citricultores encerraram-se e estão em nova negociação e isso causou perda no valor de áreas cultivadas com pomares. Mesmo assim, propriedades com pomares de boa produtividade ainda conseguem valores elevados, como conta Beto dos Santos. “Tenho uma propriedade em que o dono quer R$ 40 mil o alqueire, mas está com a safra de laranja para colher. Tirando a produção de laranja, o preço vai lá embaixo”, disse.

Beto avalia que um alqueire de terra com seringueira está entre R$ 30 mil e R$ 35 mil. Já Lúcia Helena estima que o valor de um alqueire cultivada para a produção de látex seria comercializado entre R$ 28 a 29 mil, enquanto Osmar Rossafa calcula que o alqueire destinado à heveicultura é oferecido na faixa de R$ 25 mil. O preço do alqueire de pastagem oscila entre R$ 15 e 18 mil. Rossafa afirmou que dispõe de áreas na faixa de R$ 17 e 18 mil. Na Central de Imóveis, as propriedades com áreas disponíveis para a criação de gado são oferecidas entre R$ 15 mil e 18 mil. Já Beto dos Santos afirmou que os negócios giram na faixa de R$ 17 a 18 mil o alqueire. “Até a R$ 16 mil sai negócios. Vendi uma área a R$ 16 mil o alqueire em Votuporanga”, disse.

Alqueire subiu mais que inflação em 2003

Pesquisa do Instituto de Economia Agrícola (IEA) apontou que de novembro de 2002 a novembro de 2003 o preço médio da terra de primeira no Estado de São Paulo teve valorização de 38,13%, o que elevou este valor para R$ 20,3 mil o preço do alqueire com terra nua, contra R$ 14,7 mil anteriores. O aumento do valor da terra é superior aos índices que medem a inflação e às aplicações financeiras. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no mesmo período foi de 11,02%, enquanto o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) acumulou 12,09% e o índice de preços recebidos pelos agricultores (IPR) teve correção de apenas 3,08%. De acordo com o IEA, as aplicações financeiras em fundo de investimentos registraram, em média, 25%.

A pesquisa do instituto considerou que a valorização da terra foi fruto da instabilidade financeira vivida pelo País entre junho de 2002 a setembro de 2003. “Quando observou-se uma corrida para os ativos reais, incluindo investimentos em terras”, afirmou Nelson Martin, diretor do IEA. O Instituto de Economia considera terras de primeira as áreas com topografia plana. As terras de segunda para a agricultura são aquelas que apresentam ligeiras declividades. O preço médio da terra de segunda é de R$ 15,6 mil o alqueire. Martin informou que a maior valorização do preço médio da terra de primeira e segunda no Estado de São Paulo ocorreu na região do Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de Itapeva, por causa da procura de áreas para o plantio de soja. Naquela área, a terra de primeira de primeira teve aumento de 166,67% e a de terra de segunda 160,87% com preço médio de R$ 16 mil e R$ 15,6 mil, respectivamente. A terra mais cara do Estado de São Paulo, em termos nominais, está na região de Mogi Mirim, com alqueire cotado a R$ 39 mil, seguida pelas regiões de Campinas (R$ 38,7 mil), Jaboticabal (R$ 37 mil), Orlândia (R$ 33,7 mil), Ribeirão Preto (R$ 32,5 mil) e Barretos (R$ 31,5 mil).

Região exibe preços variados

Na região de Rio Preto, as áreas destinadas à atividade agrícola que registraram maior preço médio estão localizadas nos escritórios de Desenvolvimento Rural (EDR) de Barretos e de Catanduva, com valores de R$ 31,5 mil e R$ 26,1 mil o alqueire, respectivamente. Terras de primeira na região de Rio Preto estavam cotadas, no período de novembro de 2002 a novembro de 2003, em R$ 19,1 mil o alqueire. Em Jales, o preço médio do alqueire de terra R$ 17,8 mil, Votuporanga (R$ 17,3 mil), Fernandópolis (R$ 16,9 mil) e General Saltado (R$ 16,3 mil).

De acordo com dados do IEA, no período de novembro de 2002 a novembro de 2003, as terras mais caras da região compreendida pelas seis EDRs do Noroeste do Estado estão em Barretos e Rio Preto, com alqueire cotado R$ 40 mil. Catanduva estava em segundo lugar com as áreas mais caras, onde o alqueire era encontrado no preço máximo de R$ 35 mil, enquanto em Fernandópolis a terra de primeira obtinha como valor máximo R$ 300 mil. Em Votuporanga, o alqueire de terra de primeira com preço mais alto foi cotado a R$ 21,8 mil e em General Salgado, que apresentou o menor valor máximo por alqueire do Noroeste paulista, o alqueire custava R$ 20 mil. General Salgado também apresentou, segundo a pesquisa do IEA, o alqueire de terra mais barato para atividades agropecuárias, a R$ 6 mil. Em Rio Preto, o alqueire de terra mais barato foi encontrado a R$ 8,9 mil, Barretos (R$ 10 mil), Fernandópolis (R$ 12 mil), Jales (R$ 13 mil) e Catanduva e Votuporanga com o alqueire a R$ 15 mil.