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Álcool deverá subir na entressafra, mas menos do que no ano passado

Os preços do álcool combustível, que em média se mantêm estáveis nas últimas semanas no país, como reflexo da oferta equilibrada no centro-sul, devem voltar a subir na entressafra do ciclo 2006/07, entre janeiro e abril do próximo ano, segundo analistas ouvidos pelo Valor. A expectativa é que as cotações do anidro (misturado à gasolina) e do hidratado (usado direto nos tanques dos veículos) superem R$ 1 (posto usina), mas não atinjam o pico da entressafra passada, quando em algumas regiões os preços atingiram R$ 1,30.

“O abastecimento de álcool durante a entressafra será mais tranqüilo”, disse Plínio Nastari, presidente da Datagro. A consultoria prevê que os estoques finais nacionais ficarão em 1,08 bilhão de litros até o dia 30 de abril. O volume considera 380 milhões de litros da safra atual e 700 milhões de litros da safra nova, a 2007/08, com processamento antecipado para março. No ciclo anterior (2005/06), houve déficit de 140 milhões de litros nos estoques finais, e o abastecimento no centro-sul foi garantido com a antecipação da moagem.

Nastari acredita que a oferta de álcool durante a entressafra se manterá equilibrada mesmo com a alteração da mistura de álcool na gasolina, atualmente em 20%, para 25%. A decisão de aumentar a mistura ainda depende de autorização do governo.

Uma fonte do governo informou que esta decisão deverá ser aprovada nos próximos dias. “Ainda não há qualquer data definida para discutir a elevação da mistura. Mas o governo está propenso a autorizar o aumento [a decisão deveria ter sido tomada no dia 1º de novembro]”, afirmou a fonte.

Se confirmado o aumento da mistura em cinco pontos percentuais, a demanda mensal nacional por álcool será 90 milhões de litros maior. “Considerando os próximos seis meses, de novembro a abril, seria uma demanda maior que 540 milhões de litros. Esses volumes não comprometeriam o abastecimento”, disse Nastari.

De acordo com Marcelo Andrade, trader da Ecoflex Trading, o comportamento dos preços dependerá da aprovação ou não da mistura e dos reais estoques de passagem. Atualmente, as usinas estão vendendo álcool em poucos volumes no mercado físico, na expectativa de que os preços melhorem, segundo Andrade. “As usinas estão testando o mercado. A tendência é de alta nos próximos meses”, afirmou ele.

Levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostra que a volatilidade do álcool tem sido bem menor nesta safra, em relação à anterior. “Na safra passada, os preços do álcool caíram muito durante a colheita e subiram demais durante a entressafra”, observou Miriam Bacchi, pesquisadora do Cepea. O indicador Cepea/Esalq para o álcool anidro encerrou a sexta-feira a R$ 0,86636 o litro (sem impostos), na sexta-feira passada, com recuo de 0,03% sobre a semana anterior. Em relação ao mesmo período de 2005, os preços estão 7% mais baixos. Já o litro do álcool hidratado fechou a R$ 0,75796, com quedas de 0,06% na comparação semanal e de 6,5% na relação anualizada.

A cotação média do álcool anidro entre abril e setembro deste ano ficou em R$ 1, 30% acima do mesmo período do ano passado. O hidratado ficou em R$ 0,87, 30% maior que em igual intervalo de 2005, segundo Miriam Bacchi.

Segundo Júlio Maria Martins Borges, presidente da Job Economia e Planejamento, os preços do álcool combustível podem oscilar entre R$ 1,10 e R$ 1,20, mas não devem atingir o pico da safra 2006/07, quando os estoques estavam muito apertados.