Casa de ferreiro, espeto de pau. O dito popular é mais que adequado para descrever a atual situação do etanol em Ribeirão Preto, cidade distante 313 quilômetros da capital bandeirante que é sede da maior região produtora de etanol do mundo. Ainda assim, o preço do litro do etanol em Ribeirão Preto quebrou a barreira dos R$ 2 e, nesta última quinta-feira, chegou a ser comercializado em alguns postos da cidade a R$ 2,20.
A aumento, ocorrido de forma súbita, pegou de surpresa os moradores da cidade. Na última terça-feira, ainda era possível encontrar o combustível a R$ 1,69 na maioria dos postos. “Aumentou de um dia para o outro. Abasteci na terça-feira à noite a R$ 1,70 e na quinta o mesmo posto vendia o combustível a R$ 2,10”, conta a professora Rosa Maria Bogolin, que possui um modelo flex. “Já comecei a usar só gasolina e deve ficar assim enquanto o preço estiver esse absurdo”, contou.
Com o au mento, o valor do combustível se aproxima do maior preço registrado na cidade em toda a história. O valor, de R$ 2,37, foi registrado em março deste ano, poucos dias antes do começo da moagem da cana-de-açúcar nesta safra.
Os donos de postos, por sua vez, se defendem e afirmam que a responsabilidade pelo aumento vem das distribuidoras. Segundo a gerência de um dos postos que vende o etanol a R$ 2,19, o litro foi comprado da distribuidora a R$ 1,90, sem contar o frete. “Não há como vender a menos de R$ 2 com um preço desses”, acredita Adalberto de Souza, dono de um posto na zona norte da cidade.
Já as distribuidoras procuradas pelo DCI não se pronunciaram sobre o aumento, mas afirmam que estão comprando, na usina, o etanol 44,7% mais caro neste ano se comparado com o mesmo período do ano passado. Hoje, o valor pago na usina pelo combustível é de R$ 1,21. O Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindcom) não quis comentar o aument o, alegando que o mercado é livre e que cabe aos associados definir o valor cobrado pelo etanol.
Livre mercado
O professor de Economia Vicente Golfeto, que estuda há décadas a economia regional e é especialista no setor sucroalcooleiro, acredita, no entanto, que a situação já era esperada e tenderá a se normalizar no médio prazo. “Estamos diante de uma grande quebra de safra, portanto é natural que os preços oscilem. Essa é a beleza do livre mercado. Mas não há dúvidas que chegamos a um patamar exagerado no preço do etanol e que, no longo prazo, o preço terá que cair”. Ele ressalta ainda que lei da oferta e da procura será a responsável por equilibrar os preços. “Com os preços do etanol nas nuvens, haverá menor demanda, já que a gasolina será mais atrativa. Quando isso acontecer, os preços serão acertados”.
Embora concorde com a análise de Golfeto, Oswaldo Manaia, presidente regional do Sindicato do Comérc io Varejista (Sincopetro), que representa os postos, acredita que os preços altos deverão se manter por pelo menos um mês. “Depois desse período, a tendência é que os valores caiam um pouco”, prevê. Segundo ele, o que pode complicar de vez a situação é a quebra da safra de cana de 8,39%, anunciada há 13 dias pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). “É preciso ver de quanto será essa quebra e de quanto ela irá influenciar os preços”, comenta.
Reações
Alheios às justificativas, os motoristas reclamaram – e muito – do valor do álcool. O gerente de processos André Salles, 32 anos, acredita que a situação é “indigna”. “Isso é porque o álcool é feito aqui no nosso quintal. É uma vergonha esse preço”, disse ele na última quinta-feira, enquanto abastecia – com gasolina – seu veículo.
Já o jornalista Augusto de Campos, 30 anos, não teve a mesma sorte. Dono de um carro que só pode ser abastecido com álcool, ele afirmou que pensa em andar exclusivamente de mo to até o preço do combustível voltar ao normal. “Carro só em dia de chuva. Nesse preço, fica inviável”.
Diferença
Mesmo com o aumento nos preços, é possível encontrar postos vendendo o combustível abaixo dos R$ 2 em Ribeirão Preto. Isso porque a diferença dos valores do litro do etanol praticados nos postos de combustíveis de da cidade chega a 20%. “A chave é pesquisar e escolher, como sempre, o lugar mais em conta para abastecer”, indica Golfeto.
O professor de Economia Hélio Braga explica que, além de pesquisar, o consumidor deve fazer a regra dos 70%. “Para saber se o abastecimento com etanol é vantajoso, o motorista deve dividir o valor do álcool pelo da gasolina. O etanol compensa se o resultado for até 0,7”, comenta, ressaltando que, acima disso, o indicado é optar pela gasolina. Vale lembrar que, no caso de Ribeirão, o resultado da operação se aproxima dos 0,85.
Outro reflexo desagradável para o bolso do motorista é que alguns postos aproveitaram a alta do etanol para reajustar o preço da gasolina. O valor que era de R$ 2,45 subiu para R$ 2,69. Júnior Monteiro, gerente de posto de combustível, afirma que o aumento deve ser mantido por algum tempo. “Afinal, a gasolina tem álcool em sua mistura e, se o álcool sobe, o preço da mistura também irá subir”, disse.
Eduardo Schiavoni