Mercado

ALCA, não dá para aceitar!

0 “olho no olho” dos presidentes George W. Bush e Fernando Henrique Carddoso, revela mais uma vez a prepotência e a cara de pau do presidente dos Estados Unidos. No mesmo momento em que ele quer ampliar o mercado para os produtos americanos, tomando conta do nosso, ele descumpre o Protocolo de Kyoto, pacto criado em 1997 para conter o aquecimento global.

0 Brasil é um dos países mais interessados para que o Protocolo de Kyoto fosse cumprido, pois com ele, nós poderíamos “exportar” o seqüestro de gás carbono, graças ao plantio da cana-de-açúcar e até mesmo de capim colonião, segundo pesquisas que vem sendo desenvolvidas pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas-IPT.

Isto significa dizer que nossos produtores agrícolas poderiam auferir mais renda, pois as suas culturas limpam o ar que as grandes cidades insistem em poluir. E, historicamente, os maiores poluidores do meio-ambiente são justamente os países desenvolvidos, EUA à frente.

Certamente nem FHC e nem Bush tocaram neste assunto. Muito menos as primeiras damas Ruth Cardoso e Laura Bush, que segundo a imprensa “tomaram chá e comeram biscoitos no terceiro andar da residência, onde nossa primeira dama conversou sobre os avanços sociais conseguidos (sic) pelo Brasil”.

0 jogo dos subsídios patrocinado pelos americanos para os americanos, é muito pesado. Estudos recentes do prof. Marcos Sawaya Jank, confirmam que nos últimos dez anos, a ajuda do governo dos EUA cresceu 300%. Nada menos do que 50% da renda líquida dos agricultores desse país tem origem em pagamentos do governo.

Vale destacar que o governo americano gasta uma quantia equivalente a dois terços de tudo aquilo que o Brasil – onde a agricultura há muito tempo deixou de receber ajuda dos poderes públicos – arrecada com suas exportações de soja. Esta é a face mais cruel do neopimperialismo, que disfarçado de “globalização” toma conta de determinados mercados.

Ao regressar de sua fracassada viagem aos EUA, nosso presidente FHC deveria, pelo menos, explicar a nós brasileiros, porque omitiu em suas conversas com seu colega Bush a questão do não cumprimento do Protocolo de Kyoto. Bem como, deveria FHC explicar porque nós brasileiros, pagamos três vezes mais Imposto de Renda do que os americanos. E já que estamos em clima de “globalização”, por que o leão brasileiro é o mais voraz entre os países do Mercosul, como recentemente mostrou pesquisa da consultoria Ernst & Young.

Agora, se o arrogante George W. Bush acha que nós brasileiros somos todos tão cordatos como o é o nosso presidente, cuidado. 0 exemplo da “vaca louca” mostrou que temos uma cultura que nos coloca como “pacatos”, o que é diferente de bobos e trouxas. FHC não tem procuração dos brasileiros para nos atrelar aos interesses dos americanos nesta questão da Alca.

Assim como, com todo o respeito ao sofrido povo argentino, não faz nenhum sentido oferecer mais compensações fiscais apenas porque os governantes de lá são incapazes de resolver seus problemas. Há desemprego lá, é verdade, mas não podemos transferir o desemprego deles para os nossos trabalhadores nas indústrias de bens de capital. 0u do nosso setor de produção de açúcar, já que este produto continua fora das negociações da pauta do Mercosul.

É preciso dar um basta a estas políticas predatórias à nossa economia. E a forma mais inteligente de fazê-lo, é deixar de importar e deixar de consumir produtos deles, a exemplo do que fazem com os nossos. Como também é preciso que nossos políticos parem de fazer jogo de cena e discutam uma agenda pelo menos racional de defesa daquilo que é nosso. Mesmo porque, 2002 está chegando…

Chiquinho Pereira é presidente da Força Sindical do Estado de São Paulo e do Sindicato dos Padeiros de São Paulo