A queda abrupta da demanda por combustíveis no país e o enfraquecimento do mercado de petróleo levaram o preço do etanol nos postos e nas usinas a registrar forte redução. A perda de competitividade do etanol hidratado em relação à gasolina, implicou na destruição de margens com a produção e comercialização do etanol por algumas unidades.
De acordo com a última previsão realizada pelo Pecege Projetos, as usinas devem carregar, o máximo possível, o estoque de etanol para períodos de preços mais favoráveis, porém, a estratégia esbarra na capacidade de tancagem atual e na situação financeira das usinas, que poderiam ficar sem capital de giro para financiar a safra. Em alguns casos, o relatório aponta que poderá haver ainda uma estocagem do ativo biológico, ou seja, terão cana bisada.
Ao mesmo tempo, um elevado grau de fixação de açúcar por parte das usinas e o câmbio desvalorizado têm incentivado um mix crescente para o adoçante, em detrimento do biocombustível.
O contexto reverteu completamente o bom cenário que se desenhava para o setor sucroenergético. As previsões do preço do CONSECANA-SP que antes poderiam se aproximar de R$ 0,72/kg, agora se situam em R$ 0,62/kg. Sob este novo cenário, estima-se que o fornecedor de cana terá uma remuneração menor na safra atual comparada à anterior.
Açúcar: a bola da vez
Apesar de ser o ativo de maior rentabilidade no cenário atual, o adoçante pode passar por uma crise no futuro também. “O Brasil vai produzir o maior volume de açúcar nesta safra, justamente no momento em que o mundo está reduzindo ou praticamente permanecendo estável no consumo, consequência da desaceleração econômica global trazida pelo coronavirus. Isso tende a provocar uma pressão negativa de preços nos próximos anos”, afirmou Haroldo Torres, economista, mestre e doutor em Ciências (Economia Aplicada) pela Esalq/USP e gestor de projetos do Pecege, ao participar de um webinar do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag).
Mesmo com a redução no consumo, há ainda a estimativa de déficit global no fornecimento de açúcar para esta safra. “É provável que este déficit comece a desaparecer na próxima temporada, por isso que eu diria que o Brasil pode se beneficiar dos preços do açúcar neste momento, mas nas próximas safras pode trazer uma pressão negativa para os preços do açúcar no mercado internacional”, ponderou.
O economista alertou que ainda há dois riscos potenciais em relação ao escoamento do adoçante para exportação, como as restrições de embarque por conta de medidas para evitar a disseminação do coronavirus e o excesso de fluxo para exportação de açúcar, combinado com o escoamento de uma safra recorde de grãos, o que pode gerar atraso nos embarques nos portos. “Ambas as situações podem impactar a velocidade de embarques e, consequentemente, prejudicar o fluxo de caixa das usinas”, ressalta.