Além de colaborar para o crescimento das exportações do campo e limitar os reflexos da crise dos grãos no PIB do setor, a febre em torno da agroenergia, sobretudo do álcool, deu algum ânimo ao mercado de compra e venda de terras e vem sustentando um pequeno aumento médio dos preços de propriedades agrícolas no país.
Levantamento do Instituto FNP mostra que, de maneira geral, os negócios fechados nessa frente seguem escassos, sobretudo pela descapitalização dos sojicultores. Nesse cenário, a alta média nacional de 1,24% na comparação entre os bimestres setembro/outubro de 2006 e novembro/dezembro de 2005 pode ser encarada como a continuidade de uma estagnação que já duraria três anos. Tal estabilidade média esconde, porém, algumas oscilações consideráveis.
De acordo com o estudo, as dez regiões que apresentaram as maiores valorizações no intervalo são – ou podem ser – dedicadas à cana. As três primeiras, que registraram variações positivas de 32%, estão na zona da mata alagoana. Vale observar, ainda, que as duas maiores quedas de preços médios foram observadas no Vale do Ribeira (SP), em áreas de banana, e que este ranking inclui terras de soja em Rondônia, que na época das vacas gordas da cultura recebeu muitos investimentos.
Regionalmente, o destaque é Sudeste, que abriga o maior parque canavieiro do Brasil e ainda recebe aportes em expansão. Na região, o preço da terra subiu, em média, 2,5% nos últimos doze meses até outubro. Num horizonte maior, de 36 meses, o salto chega a 18,1%, com pico de 156,7%. Já no Centro-Oeste, celeiro de grãos, houve baixa de 0,2% em 12 meses e de 20,5% nos últimos três anos.
“É óbvio que o preço da terra segue o retorno que o tipo de exploração que abriga oferece. Por isso, o perfil do mercado mudou. Em 2002, a soja, mas também o milho e o algodão, sustentavam o mercado e as valorizações. Cana e café estavam mal. Agora é principalmente a agroenergia, com as novas usinas e o biodiesel, que sustenta”, afirma José Vicente Ferraz, diretor do Instituto FNP e da Agra-FNP.
Ainda que o perfil dos compradores tenha mudado nessa seara de poucos negócios, o dos vendedores não mudou. Grande parte da expansão dos canaviais – que se faz especialmente com arrendamentos, e não com aquisições – se dá sobre áreas de pastagens, como acontecia no “boom” dos grãos.