Aos protestos de agricultores endividados que fecham rodovias em vários estados do País, somaram-se ontem duras críticas e sugestões ao governo federal, durante a apresentação da 13 edição da Agrishow Ribeirão Preto, que começa segunda-feira. Para os organizadores do evento, a crise do agronegócio deve-se à “política eleitoreira” do governo, à qual sugerem a “adição imediata de 5% de biodiesel de soja ao diesel”.
A mistura chamada de B-5 está prevista só para 2013 pelo governo, que pretende implementá-la tendo em vista, principalmente, a agricultura familiar. “O lugar certo para uma usina de biodiesel é ao lado de uma grande plantação de soja. Com todo respeito ao produtor familiar: a solução do biodiesel, como foi no álcool de cana, está no grande empresário, com alta produtividade”, diz Rubens Dias de Morais, diretor da Agrishow.
“O governo está usando o produtor rural para alimentar a população e sustentar o superávit comercial. A próxima safra não terá arroz nem frango barato. O produtor não tem como investir”, afirma. “O câmbio está comprando a reeleição e destruindo a produção”, diz.
Sérgio Magalhães, presidente do Sistema Agrishow, concorda: “Esta crise é das mais graves. A cotação do dólar é política. Arroz a R$ 4,50 (o pacote de cinco quilos) ganha a eleição, mas destrói toda a cadeia produtiva”, afirma. Para Magalhães, a baixa cotação do dólar vai até outubro, por motivos eleitorais. “Mas, até lá, nos arrebenta”, diz. Magalhães acrescenta que a salvação da cultura de soja – que pode perder 3 milhões de hectares – está no aumento da demanda, por meio do biodiesel.
A Agrishow Ribeirão Preto sempre foi, ao longo de suas 13 edições, palco de discussões e pleitos que contribuíram para a grande revolução que transformou o agronegócio brasileiro num dos mais produtivos do mundo. Neste ano, no entanto, o presidente Lula não deve comparecer ao evento e o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que nos últimos anos transferiu seu gabinete de Brasília para Ribeirão Preto durante a realização da feira, deverá vir só na abertura, na segunda-feira. “O presidente não vem porque parece estar fugindo, mas vamos tentar segurar o ministro por mais alguns dias”, diz Magalhães.
Os organizadores da Agrishow, que movimentou R$ 688 milhões em 2005, não esperam grandes vendas neste ano, a não ser para o setor de açúcar e álcool, que vive grande euforia. “Queremos usar a Agrishow para discutir soluções”, diz. Os negócios, no entanto, não deverão passar dos R$ 500 milhões.