A defesa do livre comércio para a agricultura colocou o Brasil em posição de destaque nas negociações internacionais. Não deverá ser diferente da cúpula da Organização Mundial do Comércio (OMC) a partir de amanhã, em Hong Kong, segundo alguns analistas. O poder de argumentação conquistado na disputa pela redução dos subsídios e pelo acesso aos mercados dá ao Brasil, ao lado da Índia e da China, a liderança no chamado Grupo dos 20, composto pelos países em desenvolvimento. Para esses analistas, a reunião não deverá levar a grandes conquistas por parte do Brasil e seus parceiros na defesa da liberalização do mercado agrícola, mas permitirá, ao menos, a definição de uma agenda para o andamento das negociações e uma nova lista de compromissos a serem assumidos pelos países ricos.
O consultor André Nassar, do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Ícone), acredita que foi a defesa do livre comércio para a agricultura que deu ao Brasil o poder de argumentação e de destaque. Antes, quando o foco eram a indústria e os serviços, os negociadores brasileiros tinham de se colocar em posição defensiva, já que o Brasil estava entre os países mais protecionistas, defendendo a produção local.
Essa situação se inverteu quando passou a tratar de temas agrícolas. O Brasil não precisa, nem poderia defender a produção agrícola local, porque dispõe de vantagens comparativas em relação aos concorrentes estrangeiros, especialmente na produção de açúcar e álcool, e suco de laranja, afirma Nassar. Os argumentos ressoaram pelo mundo e outros países aderiram às teses brasileiras. A polêmica fica por conta da ênfase a ser dada à guerra aos subsídios, que significa brigar especialmente com os Estados Unidos, ou pelo acesso aos mercados, o que recomenda bater mais forte na União Européia. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora de Carne de Suínos (Abipex), Pedro Camargo Neto, idealizador da ação brasileira na OMC contra os subsídios americanos às exportações de algodão, defende que os negociadores devem concentrar seus esforços no combate aos subsídios. Negociadores do Itamaraty, no entanto, acreditam que o Brasil deve buscar também maior acesso aos mercados, com a eliminação das barreiras alfandegárias.