Genebra – O cenário político internacional está gerando um pessimismo entre os especialistas sobre as possibilidades do Brasil aumentar suas exportações agrícolas nos próximos anos. Enquanto os Estados Unidos estão prestes a aprovar uma nova lei agrícola que dificultará a entrada de produtos brasileiros a preços competitivos no mercado local, na Europa, o sucesso dos partidos conservadores deixa claro que não será fácil conseguir arrancar da União Européia (UE) uma liberalização rápida do setor agrícola.
Estados Unidos e União Européia são os maiores compradores de produtos agrícola do País. Mesmo assim, as barreiras nos dois mercados impedem que as exportações aumentem.
Na quinta-feira passada, o congresso norte-americano anunciou a versão final da nova Farm Bill (lei agrícola), que destinará US$ 73,5 bilhões nos próximos seis anos aos produtores locais. O volume representa um aumento de 400% nos subsídios em comparação ao que os produtores recebiam em 1995.
Segundo especialistas da OMC, a lei poderá gerar uma queda dos preços internacionais dos produtos agrícolas, afetando a renda dos produtores brasileiros, que não contam com subsídios. Além disso, o aumento da ajuda poderá impossibilitar que as exportações brasileiras possam concorrer pelo mercado norte-americano em pé de igualdade com o produto local.
Outro problema são as tarifas. O especialista em política agrícola, Marcos Jank, alerta que apesar de mais da metade das importações dos Estados Unidos receber tarifas abaixo de 3,7%, 120 produtos agrícolas acabam sendo taxados em até 350%. “São proteções cirúrgicas e que têm um impacto significativo para o Brasil”, afirma Jank.
Uma das esperanças do Brasil é a negociação para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Mas tudo indica que autorização que será dada pelo congresso norte-americano para a Casa Branca negociar acordos comerciais – o Fast-Track – deixará mais de 300 produtos de fora das negociações, entre eles o suco de laranja e o açúcar.
Na Europa, a situação parece ainda mais complicada. O sucesso dos partidos conservadores em vários países indica, entre outras coisas, que os lobbies agrícolas estão cada vez mais fortes. Na avaliação de diplomatas na OMC, governos como o da Dinamarca, Itália e principalmente o da França não devem facilitar uma abertura de seus mercados nos próximos anos.
O diretor da Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), embaixador Rubens Ricúpero, lembra que a importância do setor agrícola na França é tão significativo que, durante sua campanha, o presidente francês, Jacques Chirac, passou mais de 6 horas percorrendo uma feira de agricultura para mostrar seu apoio que os agricultores receberão em seu próximo mandato, caso seja eleito. “Esse é um elemento simbólico dos compromissos que Chirac tem com os grupos mais tradicionais”, completa Ricúpero. (Jamil Chade – Agência Estado)