O mês de agosto de 2023 registrou um número sem precedentes de incêndios no estado de São Paulo, atingindo o maior índice já documentado. De acordo com dados da plataforma de monitoramento de queimadas Terrabrasilis, coordenada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), foram registrados 3.612 focos de incêndio ao longo do mês, sendo o ápice entre os dias 22 e 24 de agosto, quando 2.621 focos foram captados, com quase 1.900 ocorrências apenas no dia 23.
Esses incêndios tiveram impactos profundos na sociedade civil e, principalmente, no setor agrícola paulista, com destaque para a região de Ribeirão Preto, que concentra extensos canaviais. Segundo o Painel do Fogo, do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM), os eventos de queimadas nesse período atingiram uma área total de 2.900 km², dos quais 270 mil hectares não estavam classificados como terras indígenas, quilombolas, assentamentos ou unidades de preservação.
A região canavieira de São Paulo foi a mais prejudicada pelos incêndios, especialmente os arredores de Ribeirão Preto. A análise cruzada dos dados do Terrabrasilis e do Painel do Fogo revelou que entre 210 mil e 220 mil hectares de canaviais foram impactados entre 22 e 24 de agosto. O levantamento da Inteligência de Mercado da StoneX mostrou que cerca de 75% das áreas queimadas eram plantações de cana-de-açúcar, confirmando o estudo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), que apontou que mais de 80% dos focos de incêndio ocorreram em áreas de cana ou pastagem.
Ribeirão Preto, com aproximadamente 1,4 milhão de hectares de área plantada com cana-de-açúcar, registrou 830 focos de incêndio em agosto, afetando mais de 100 mil hectares (7,6% da área total da cidade). Outros municípios próximos, como Sertãozinho, Viradouro e Cravinhos, também foram severamente atingidos. A mesorregião de São José do Rio Preto, embora tenha registrado um maior número de municípios afetados, com 50 localidades, teve uma área total impactada menor, de aproximadamente 40 mil hectares.
Os incêndios causaram danos significativos às usinas e ao setor agroindustrial, com 29 das 172 usinas paulistas impactadas diretamente, 19 delas localizadas nas mesorregiões de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto. Quando o raio de impacto é ampliado para 10 km em torno das usinas, 67 unidades produtivas foram afetadas; e a 20 km, esse número sobe para 114.
A Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (ORPLANA) estimou que cerca de 80 mil hectares de canaviais foram queimados, sendo que 40% dessa área estava em fase de brotação, o que pode levar a perdas expressivas de produtividade, com a necessidade de replantio. Se toda a área com soqueira queimada for perdida, estima-se uma redução de 2,2 a 2,9 milhões de toneladas de cana na safra 2025/26.
Embora a cana-de-açúcar queimada possa ser colhida em um processo acelerado, essa mobilização gera custos significativos para as usinas, além de reduzir a qualidade dos açúcares recuperáveis, o que pode afetar o mix açucareiro. Ainda assim, as estimativas indicam que o impacto total das queimadas será mais severo para as safras futuras, especialmente em áreas que demandarão replantio.
As chuvas previstas para os próximos meses podem aliviar a situação, mas, no curto prazo, as queimadas continuam a representar uma ameaça significativa. Com a previsão de temperaturas acima da média em setembro, o cenário de novas queimadas preocupa produtores e autoridades.